Lendo o meu livro "100 años de soledad", agora marcado na página 62, olho para o marcador de páginas me lembro como ele chegou às minhas mãos.
A melhor coisa para se fazer em Veneza é caminhar pelas suas ruelas até se perder, tentar um caminho, se deparar com água, retornar e tentar outra vez . Um verdadeiro labirinto! E nesse jogo de tentativa e erro é possivel apreciar os seus encantos, a sua arquitetura, ateliês de arte, as suas vitrines cheias de guloseimas convidativas. Mas naquele dia eu andava sem a pretenção de me perder. O objetivo era chegar até a estação Santa Lucia a tempo de pegar o trem para Florenza, e eis que de lá, da lojnha de livros, quadros e papeis coloridos, aquele homem me chama, olho para tras e a pressa me faz continuar rumo a estação. Mas ele insiste e me convida para entrar.
-Quero te dar um presente - disse ele numa mistura de italiano e espanhol
-Não, obrigada, nao precisa se preocupar
-Por favor, eu quero te dar um presente, é muito rápido, não vai te atrapalhar
Projetei só metade do meu corpo para dentro da loja, para significar a minha pressa, mas ele ja foi estendendo mão, me entregando o marcador juntamente com um lapis com o mesma estampa.
-Nao, não precisa mesmo. Obrigada! Eu preciso ir para não perder o trem.
-Olha, eu sou um artista - E me mostrava na parede as suas obras - e eu gostaria de pintar um retrato seu.
Mas eu persistia em recusar, com o argumento de não perder o trem, e ele insistia. Disse que não levaria mais de 10 minutos, que pintaria o meu rosto e me daria o quadro como presente. Então eu pensei, por que não? Com um olhar de raio X avaliei a "segurança" do local. Ateliê, com portas de vidro, destrancadas, expostas a qualquer mortal que passasse na rua, e além do mais, seria a pintura do meu rosto, nada além do que estava exposto. Entao topei.
_Ok, tudo bem, mas não tenho muito tempo.
Então, ele me disse para acompanhá-lo, trancou o ateliê e começou a caminhar pelas ruas estreitas da cidade, até que virou á esquerda em uma delas e eu simplismente...não o segui....hehehe...fiquei com medo, sai correndo, entrei na proxima rua a direita e num zig zag fui parar na estação de trem. É fácil de se perder e fácil também de se livrar de estranhos artistas que se propoem a pintar o rosto de uma brasileira perdida em Veneza.