Não era pra ser uma viagem de férias, nem de auto-conhecimento, tampouco de auto-afirmação. Não...o objetivo era simplismente viajar. Viajar no sentido mesmo de ir, de se movimentar. Viajar tem um sentido tão profundo, que encerra em si qualquer necessidade de justificativa. A minha foi algo do tipo: "Vamos ver o que vemos". E quando as expectativas não existem são maiores as surpresas e, na proporção inversa, as decepções. Um grande exemplo, senão o melhor deles, foi uma grande amizade que acidentalmente - ou puramente por sincronicidade - eu conquistei. Um esboço de percurso que, a principio, deveria ser trilhado sozinha foi compartilhado a maior parte do tempo com uma pessoa que hoje posso chamar de minha grande amiga brisa fresca! E o Andreas...aquele menino esquisito que apareceu para dividir o quarto no albergue de Cartagena. A princípio calado demais, anti social, carinha de maluco, derrepente se tornou um excelente companheiro de viagem. Conviver aqueles quase 2 meses com Andreas e Isa foi comprovar empiricamente que amigos não se escolhem, se reconhecem. Tudo bem, poderíamos ter escolhido não irmos juntos de Cartagena a Santa Marta - que aliás foi uma das estradas mais bonitas por onde passei, por onde se podia avistar de um lado o mar, acompanhado de vegetação virgem com variados microtons verdes e do outro os mesmos microtons intercalados por pequenas lagoas, aves e raras flores - mas foi o reconhecimento tímido anterior que nos conduziu a escolher irmos juntos, os 3 de cartagena a Santa Marta, De Santa Marta à Cidade Perdida, da Cidade Perdida a Taganga (o nome desta cidade me remete ao codinome pelo qual eu costumava atender na infancia, quando meu pai me chamava), de Taganga ao Parque Tayrona. De Tayrona a Santa Marta, de onde Isa seguiu para Bogota para retornar ao Brasil e eu segui com o Andreas até Mompox, Medellin, Rio Claro e Bogotá. Nós tres compartilhamos muito mais que as risadas, o espaço na mochila ou no cofre do albergue, o pote de iogurte...Ha semanas atrás erámos meros desconhecidos e depois de algum tempo de convívio ja tínhamos uma especie de conta conjunta. Era uma caderneta onde anotávamos quem pagou a conta do mercado, quem pagou as passagens de ônibos, a conta do restaurante para depois, periodicamente, fazermos o balanço de saldo e debito de cada um, zerarmos a conta e começarmos outra vez. Ah, se eu tivesse levado a sério os conselhos da vovó de não confiar em estranhos, esse caminho teria sido tão frio, tão desprovido de cores. ..Alguem nesta viagem falou p Isa: A vantagem de viajar com amigos é que com eles se pode dividir memórias. Se eu relatasse o balanço sincronizado na rede sobrevoando as "Tayrona Lines", ou sobre acrise de riso em Arequipa, ou sobre as caminhadas rumo a cidade perdida não faria tanto sentido aqui. O meu amigo me perguntou: E aqual é a conclusão disso tudo? Não existe conclusão.!Aqui não se aplica aquele padrão de relatório com introdução-desenvolvimento-conclusão e anexos, daqueles que elaborava depois das aulas experimentais nos laboratórios do instituto de quimica ou de física. Até hoje, quase 2 meses depois de ter retornado eu ainda vomito memórias, afloro sentimentos, recordo sensações...
2 comentários:
Nhai, agora que vi...
Realmente, amigos se reconhecem. E nossa experiencia com Andreas foi surreal.
Adoro-te. :)
Não é a primeira vez que releio teus textos. E alguns fazem sempre meus olhos marejarem... Tens um dom guria, primeiro de sentir as coisas do jeito que sentes e, depois, de saber passar isso com palavras. Beijo. Ira
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