Sabe Mohamed, aquele o
aniversario em Galle? Pois eh, fui na casa dele hoje no fim da tarde. Os donos
da asa onde estamos hospedados – Deepika e Farrim – sao seguidores de uma vertente
da religiao mulcumana, denominada “Sufis”. A Indiana Kika (Prianka) chegou ontem a noite e veio conhecer o
sheik Adnan, lider religoso que esta viajando pelo Sri Lanka. O papo da noite
anterior girava em torno disso. Fe, religiao, crescimento espiritual,
meditacao, mente x coracao, evolucao.
Ja li algumas coisas para entender melhor
sobre os mulcumanos, mas as informacoes nao se fixam na minha cabeca, e uma
otima forma de aprender, eh atraves de quem faz parte dela. Eu estava movida
pela curiosidade. Sempre fui muito fechada a qualquer tipo de religiao
diferente daquilo que fez parte da minha educacao quando crianca, mas a
curiosidade me aticava e la estava eu na casa de Mohamed (Maome). Deepika
disponibilizou uma roupa sua, caso precisasse, poise eu teria que estar
adequadamente vestida (tipo, toda coberta, inclusive a cabeca). A calca sequer
passou no meu pe, a blusa entrou com sacrificio, falsa magra que sou, mas no
improviso, consegui me cobrir como manda o figurino. Estava usando na
cabeca minha canga de praia que a vaca comeu na white house (Em Unawatuna), mas
so me lembrei das centenas de furinhos quando ja estava debaixo do teto do seu
Mohamed - tarde dmais. No carro, as criancas iam excitadas, acho que muito mais
pelo fato de que iriam comer mac Donald depois do culto, do que pelo culto em
si (Sim, eu comi Mac Donald. Depois de semaaanas comendo curys, achei aquilo tudo
delicioso!). A instrucao de Aiman, 7 anos, era copiar tudo que as outras
mulheres fazessem.
- Eh isso que faco, so presto atencao e faco igual – disse.
Antes de descer do carro, tive
que cobrir a cabeca (com a canga que, ate entao, nao sabia que estava toda
“Bagacada”). Do lado de fora do salao, um mar de sandalias, um homem no chao
embalava uma crianca. Dentro do salao, os homens sentados no chao na
primeira metade do recinto, todos com pequenos chapeus ou turbantes
cobrindo-lhes a cabeca. As criancas esqueceram de avisar a Udhayan que ele
precisava de um, e la estava ele, de cabeca pelada no meio dos outros. Na outra
metade do salao, as mulheres tambem sentadas ao chao, tinham seus veus
cobrindo-lhes as cabecas. Nao pude enxergar quem estava na frente do culto, vi
apenas um turbantao verde, mas era o Sheik Adnan. Ele entoava canticos numa
lingua, na maior parte das vezes, desconhecida, provavelmente arabe, e era
seguido pelos demais. Assim que entrei no salao, meu coracao disparava de medo
e ansiedade. Meu olhar curioso prcorria todo o salao. Lembrava muito do meu
colega de trabaho, cujo assunto preferido eh “terrorismo” e pensava: Vao jogar
uma bomba aqui. Eh impressionante como, sem perceber, a gente acaba comprando
certos estigmas.
Alguns canticos - ou
mantras, nao sei – soavam engracados e me dava vontade de rir. Coisas do tipo
“Ho-Ho-Ho-Ho-Ho-Ho….Ho-ho!!!” (Nao eh o Ho-Ho-HO de Papai Noel, favor nao
confundir). Algumas pessoas ao redor se mostravam em estado de oracao ou
meditacao, com seus olhos fechados e corpos balancando lentamente. Outros
mostravam-se inquietos, mudando de posicao, com olhos nao menos inquietos que
os meus, percorrendo todo salao. Os canticos continuavam, com uma acustica
excelente no local. Horas eram interrompidos por uma especie de oracao puxada
plo sheik, reconhecia os nomes Alah e Mohamed repedidos diversas vezes. Aos
poucos, o medo e as batidas fortes do coracao foram se esvaindo e fui me
sentindo numa sala de cinema, mera espectadora, sem fazer parte de nada que
estava acontecendo ali. Saimos do culto antes de terminar. Foi suficiente para
satisfazer a curiosidade. Senti muito mal estar e dor de cabeca ao chegar em
casa. Pode ter sido a noite mal dormida, o hamburguer gorduroso, ou simplesmente
a energia do lugar.
Um comentário:
Como você escreve bem! Enquanto lia lembrava-me de meu filho Francisco que já seguiu essa vertente (na verdade creio q segue até hoje). Acho q seria interessante ele ver esse texto...Um beijo
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