-Eu to entediada
-Vamos fazer uma caminhada
tranquila, so pra sair de casa.
A TPM chegando, o tedio veio
junto com ela. Troquei de livro, tentei diverter-me no tecido, um doce, um
cochilo, mas eu nao me ajustava dentro de mim.
Comecamos descendo a estrada principal
que da acesso a casa, para ver o lugar que esta reservado para o cultivo de
alguns vegetais, perto do ponto onde me perdera ha 2 dias e que me rendeu um
machucado nos pes. So eu mesmo pra me perder onde nao existem opcoes de caminho,
alem do correto. Foi quando ele teve a brilhante ideia:
-Podemos tentar ver o elefante
que vive aqui na regiao.
OPAAA!!! Nada melhor que um
elefante selvagem para espantar o tedio!!
Comecamos subindo pela plantacao
de cha, sem uma trilha muito definida. Um macaquinho em cima de uma casa
gigante de formiga ergueu-se e, ao confirmar que alguem se aproximava, partiu
Chegamos ao alto, perto de onde estiveramos semana passada para ver o
por-do-sol. De la avistamos preta, que vinha ao nosso encontro – Nao sei se ela
tem outro nome de batismo, mas eh assim que a chamo. Na rocha a frente, mais
macaquinhos relaxavam ao cair da tarde, revezando-se entre ela e as arvores ao
redor. Mesmo nao encontrando o elefante, ver aquela macacada toda ja teria sido
suficiente pra dar uma sacudida no tedio.
A quantidade de nuvens no ceu ja
anunciava que hoje nao teria por-do-sol, mas ele, mesmo assim, deu seu show,
dancando por entre as nuvens. Mesmo nao encontrando o elefante, ver a danca do
astro-rei ja teria sido suficiente pra dar uma sacudida no tedio.
Muita concentracao e silencio no
caminho, que nos levaria ao enontro do elefante. O ideal seria que os vissemos
antes de sermos por ele vistos. A historia que se conta por aqui eh que ele ja
matou 4 pessoas. Fezes secas comprovam que eles ja passaram por aqui, mas
aparentemente ha alguns dias atras. Preta nos seguiu ate determinado momento,
depois parou, ficou nos avistano de longe, ate sumir. Melhor, segundo Udhayan,
pois corria o risco de ela assustar com o seu latido o elefante.
A arvore que se erguia sobre a
rocha, rasgando-a para fincar suas raizes, me chamou atencao. Mesmo que nao
visse o elefate assassino, aquele simbolo de forca e determinacao ja teria sido
suficiente para espantar o tedio.
Mais fezes de elefante, e dessa
vez mais frescas! Talvez nao fizesse tanto tempo que ele estivera por aqui. Uma
rocha gigante me fez lembrar dos meus amigos da escalada e alguns momentos com
eles no Rio. O sol ja estava baixando e nada do elefante “dar as trombas”. O
caminho das pedras era muito fluido e parecia que em algum momento iria nos
levar pra onde eles se escondem. O sol lancava seus ultimos raios de sol,
cobrindo de alaranjado o ceu, foi quando decidimos voltar,
por uma outra triha no meio do mato, que avistamos do alto. Do alto ela parecia
tao clara e batida, mas a medida que desciamos, ela desaparecia. Teria sido o curupira que fechou o caminho? Nenhum sinal de acesso que nos
levasse de volta pra casa. A tarde caia. Podiamos apenas avistar a roca de
tomate que fica na beira da estrada. Mas ele ia exatamente na direcao oposta, Segundo
ele, por que o caminho era mais limpo. Insisti para que fossemos na outra
direcao, pois ela nos aproximaria do camnho de casa, e poderiamos usar o clarao
da roca de tomates como referencia, mesmo com pouca luz. Nao tinhamos lanterna,
nem nada parecido. Por sorte, a caminhada anterior com havaianas me convencera a
calcar o sapatto apropriado. Resolvemos seguir na direcao dos tomates. Neste
momento eu ja nao tinha mais nocao do que significava tedio, pois a adrenalina
fazia folia nas minha veias. Seguimos uma trilha aberta, ate que encontramos
uma bifurcacao.
-Para cima ou para baixo? –
Perguntou
-Para baixo. – Sugeri
E assim o fizemos, mas depois de
cerca de 2 minutos a trilha se fechou e resolvemos voltar para pegar o caminho
de cima, como numa corrida contra o tempo. Passamos por um riacho. Mais fezes de
elefante. Pouca luz! Por favor seu elefante, considere que eu ja nao estou mais
entediada, nao precisa aparecer! Comecamos a entrar numa mata, os ultimos raios
de luz diziam-nos que precisavamos correr. Meu casaco amarrado na cintura, ao
tocar minha perna, me assustou.
-Ja nao ha mais trilha
-Vamos simplesmente descer no
meio do mato
-Ok, estamos exatamente acima da
plantacao de tomates.
Nesse momento ja ouviamos algumas
bombas, eh o artificio que eles usam para espantar os elefantes. Calma
cominidade, quem ta fazendo esse barulho no meio do mato somos nos, que saimos
para procurar elefantes a fim de espantar o meu tedio, que a esta altura ja se
transformou em adrenalina; mas continue soltando as bombas, o que menos quero
encontrar nesse mato eh um elefante com quarto assassinatos nas costas. Aos
poucos a pouca luz reduzia a distancia a nossa frente que podiamos enxergar.
Escorregavamos morro a baixo, tropecavamos no cipo, passos em falsos faziam
pedras rolarem, qualquer galho seco que tocava minhas pernas me fazia pensar
que era cobra ou outro bixo qualquer. Desviamos o caminho pois um pequeno
precipicio se apresentou em nossa frente. No clarao entre as arvores podia-se
ver que ameacava chover. Ja era noitinha, ate que,”dressed and afraid” chegamos na estrada de pedras que nos levaria ate em casa,
onde Preta ja nos aguardava. Pouco tempo depois, o ceu desabou, quando ja
estavamos preparando o jantar, de banho tomado e, DEFINITIVAMENTE, SEM
TEDIO!!!!
O que vale eh a intencao da foto
Preta, preta,pretinha
Macaqueando no fim da tarde
A arvore que cresceu na rocha
Fezes de elefante, uma pista de que eles estiveram aqui
Da pra brincar de subir nessa rocha
Ultima foto antes da aventura de se perder no caminho de volta pra casa