terça-feira, setembro 25, 2012

As flores de plástico não morre....

A loja de flores ficava aberta até às 20h. Gérberas brancas e flores do campo lilázes, amarelas e vermelhas. Era pra enfeitar o cubículo enclausurado do 417.
-Alguma recomendação especial?
-Basta trocar a água todos os dias.
 Ao quinto dia notei que elas murcharam e descobri o quanto fede água de flor!! É meio clichê, mas tem que cuidar!! As vezes tenho medo do excesso de palavras. É que por mais singelas que pareçam, elas secam as pétalas, se não acompanhadas dos gestos que sugerem. Tem que trocar a água todos os dias e remover as folhas que caem. E quantas frases cabem no jarro das flores que não se pronunciam? Quantos espinhos se escondem no cesto das palavras não balbuciadas? A palavra tem o dom de manipular, de distorcer, de transformar. Sobretudo quando é lançada pra fora sem usar a janela da alma. Quando não é germinada no solo fértil do peito. Seriam a omissão e a mentira sinônimos ou dicotomia? Isto me remeteu a outra intriga sobre dicotomia, aquela entre o equilíbrio e a ignorância. . Que variáveis precisam ser ignoradas para fazer convergir a equação do equilíbrio? Eu gosto dos que se abstém de falar quando não praticam o que falam. Eu prefiro as flores de plástico quando sei que não poderei cuidar. Estava lindo o 417 enquanto elas permaneceram sobre a mesa. Mas agora é folha seca, água amarelada e pétalas ao chão. São 22:04. A tal lojinha de flores já não funciona mais. Mas eu acendo um incenso com cheiro de sândalo e danço uma canção, sem palavras, apenas com sons de flauta e violão...