sexta-feira, junho 30, 2006

Uma fotografia viva

Eu vi uma moça que parecia uma fotografia antiga. Pela sua moda defasada, seus cabelos desarrumados e olhar estático. A rua transbordava de transeuntes e eu observava o dia começar apressado pelo vidro embaçado da condução que me transportava para o meu destino rotineiro. Na cadeira da frente uma senhora levantou-se para ceder o lugar a um idoso que estava em pé tentando, a custo, equilibrar-se. Ele estava há horas do meu lado e eu sequer notei, tão distraída que estava com a vida que acontecia lá fora. Era a imagem viva da fotografia antiga que me roubava a atenção. Lembrei-me de uma moldura que tenho de mim quando criança, vestida numa moda igualmente defasada, de cabelos não menos desarrumados e uma magreza aguda que os anos muito pouco conseguiram amenizar. O senhor idoso permaneceu sentado apenas até a parada seguinte, onde desembarcou. Mas aquele trecho curto do trajeto pareceu infinito. Como uma fotografia que eterniza imagens, histórias e sensações.

quarta-feira, junho 28, 2006

Eu respirei bem fundo, para ver se do meu suspiro nascia alguma inspiração, mas nada me ocorreu. Tenho pensado só em equações, em modelos matemáticos, balanços de energia...e daí? Outro dia sonhei que para a minha viagem acontecer seria necessário resolver uma equação diferencial através de série de potências, mas tinha um coeficiente que eu não consegui determinar. Falando em séries, lembrei que estou devendo um post em homenagem a Murilo, meu leitor assíduo, como ele mesmo se entitula. Não sei como mesclar poesia e engenharia. Talvez se eu escrevesse "EU" estaria fazendo isso, pois estou impregnada dos dois. Mas, voltando às séries...o que gostaria de dizer, mas ainda não descobri como fazê-lo é a respeito do vício que criamos de enxergar as pessoas e coisas que nos cercam como formas sintetizadas de uma expansão em séries de infinitos termos, ou simplismente, truncá-las em um ponto, desprezando outros que comprometem completamente a sua essência. Faço isso comigo, cada dia desprezoum termo meu - que posso, com a licença da metáfora, chamar de aspecto- simplismente para simplificar a solução de mim. Mas qual é mesmo o motivo disto? É puro vício! Estava tentando encontrar as minhas condições de contorno, mas agora relaxei, pois a minha viagem aconteceu, mesmo sem que eu conhecesse aquela constante lá que não consegui determinar. Deveria estar assistindo aula de adsorção agora, mas estou de cabeça baixa enquanto ouço falar de sítios ativos, isotermas de Langmuir. Preciso sentir a textura de uma flor lilás para voltar ao equilíbrio das letras e dos números, entre o que é objetivo e o que é sentimento. Vou voltar a assistir aula, da janela da minha sala da pra ver o mar...

segunda-feira, junho 26, 2006

...

Há dias que sou mar,
Há dias que sou caverna,
Há ruídos que sou silencio,
Há segundos que sou eterna...

domingo, junho 04, 2006

Uma frase sem sentido

Estou vazia da poesia. MAs sinto uma vontade pulsante de escrever. Faltam-me palavras, palavras estas que nem sei se existem. Há uns dias pensei nesta frase: "Nos vemos em outubro, quando o sol estiver brilhando mais". Desconheço o sentido disso, nem rima tem. Engraçado que mesmo sem encontrar a palavra exata pro meu agora, eu vou me esvaziando ao escrever. Parece que consigo afastar a estranheza que estou sentindo...

Preguiça

Há tanto o que fazer e eu permaneço aqui imóvel. Mas há tanto o que fazer mesmo! Nos sentidos todos. Sentir preguiça é gostoso, ainda mais quando está frio. Às vezes tenho preguiça até de viver, mas o tempo vai passando sem intervalos e a minha vida vai vivendo por si mesma, em meu lugar, sem que eu participe dela. Ainda não experimentei ficar isenta de pensamento, mas deve ser legal. Agora mesmo tentei: Ficar parada assim, apenas sendo...Engraçado isso, a minha vida ir vivendo absoluta enquanto eu descanso de viver. Mas somos cumplices, muitas vezes já vivi por ela, quando ela precisou se ausentar. Ando preguiçosa por demais. Vou sorrir um pouco, exercitar os musculos...