quarta-feira, março 29, 2006

Pérola!!!

Já estava pronta pra ir dormir, quando derrepente minha vó soltou uma pérola, tive que vir postar aqui:
"Eu hein, bicho da Bahia é bode. E o vaqueiro é um gipe"
Alguém me ajude a interpretar

Transformação

Eu sei que cada dia
Qualquer coisa pode morrer
Qualquer coisa de belo pode nascer,
Eu posso apagar,
Jogar lembranças no poço do esquecimento
E escrever uma página nova na história
Eu sei que um dia,
Todo presente será memória.
Cada dia tudo morre
Pra algo possa nascer
Uma lágrima de tristeza cai
E um sorriso se abre no olhar
Eu posso cantar a melancolia
Que sutilmente nasce a alegria
Morre o homem velho
Morrem os desejos sem nexo
Nasce um novo coração
Morre a esperança
Nasce uma nova forma de acreditar
Cada dia,
Morre um pouco de mim,
Nasce tanto de mim em mim tantas horas
Morre-se e nasce-se um pouco a cada dia
Eu sei,
Toda morte é provisória
O nascimento sempre vem
É transformação
Eu sei que nada apenas morre
Eu sei que nenhuma morte é em vão.

terça-feira, março 28, 2006

Impressão Digital


Estava observando o pescoço do moço de camisa listrada. Os pelos cresciam num movimento tal, que pareciam tomar forma de uma impressão digital. Derrepente, vi na minha face estampada a figura que acompanha a minha fotografia no RG. E fiz uma expressão de pavor por causa de um pensamento que me tomou: Seria eu imutável? Estaria eu mesma desenhada em cada parte de mim? Já me vi por horas fragmentada, cada parte de mim sendo um eu diferente que sou. Ja neguei a mim mesma. Ja menti sobre o meu ser, coisas que a minha digital não faz. Aquelas formas dançavam no pescoço do moço, possuindo cada parte exposta do seu corpo, e eu me desesperava por pensar que naquela mesma dança eu poderia começar a tomar forma de mim. Escondo-me, não toco em nada! Enquanto eu não descobrir, não poderei revelar esse eu que penso que sou.

segunda-feira, março 27, 2006

Olhos Verdes

A presença da minha vó aki em casa, tem me levado a experimentar a magia e a estranheza da velhice. Aí lembrei de algo que escrevi uma vez que minha mãe me pediu para pintar os seus olhos...

Olhos Verdes

Vi as marcas do tempo nos olhos da minha mãe
Vi a ausência de juventude
E senti medo do tempo passar
Mas havia vida,
Havia vida naqueles olhos mudos
E uma enorme história
O semblante toma forma da memória
Em cada traço da feição.
Senti medo das minhas mãos derrepente envelhecerem
E do encanto da mocidade se esvair
Senti medo das formas flácidas do tempo
Quando olhei aqueles olhos verdes a luzir.

domingo, março 26, 2006

SOMA


Estou postando uns textos antigos, esse aí deve ter sido escrito em 2004, mas eu ando mais ou menos assim, tentando me encaixar em alguns limites estreitos...

Soma

Algumas doses de soma pra esquecer
O efeito produzido pela repressão dos meus impulsos
Que não têm outra saída a não ser transbordar
E a inundação é sentimento,
A inundação é paixão
A inundação é loucura até.

A consciência embriagada de significação
No intervalo de tempo entre o desejo e sua satisfação
Sufocada pela falta de ar
Pela falta de espaço
Da prisão esterilizada
Que a realidade criou.

É lá,
Nos seus limites estreitos
Que vagam meus pensamentos
Numa eternidade lunar
Tentando produzir a cegueira e a surdez
Deliberadamente procuradas
Na obscuridade quente e abafada da insatisfação.

Eureca!!!!!


Hoje tive uma idéia sensacional! Vou pendurar um peso na extremidade do meu sono para aumentar a força de campo gravitacional atuante sobre ele (tá foda, eu acordo por qualquer alfinete que cai no chão). Aproveitando este momento de gambiarras, vou providenciar uma lambida felina na minha memória pra que a aspereza da lingua arranhe a leveza e a maciez de algumas das minhas lembranças (lembranças boas que não se podem lembrar). Pronto! descobri a soluções do meus problemas. Um gato, uma pedra e um barbante...

sexta-feira, março 24, 2006

Drumond

Hoje fiquei com vontade de postar um texto de Drumond...

Comunhão

Todos os meus mortos estavm de pé, em circulo, eu no centro.
Nenhum tinha rosto. Eram reconhecíveis pela expressão corporal e pelo que diziam no silencio de suas roupas além da moda e de tecidos, roupas não anunciada e nem vendidas.
Nenhum tinha rosto. O que diziam escusava resposta, ficava parado, suspenso no sabão, objeto denso, tranquilo.
Notei um lugar vazio na roda.
Lentamente fui ocupá-lo.
Surgiram todos os rostos iluminados...

quinta-feira, março 23, 2006

A morte do ego



Ontem atirei no meu peito. Atirei-me num leito desconhecido, só pra sentir a estranheza da morte. Ouvi o estouro da bala e um silêncio profundo reinou. Eu sei que eu não estava mais lá. Senti meu peito desacelerar lentamente até parar de bater. Senti também o meu olho sangrar. Era frio. Meus dedos contraíram-se num gesto de dor. Eu não sabia o que fazer: viver, morrer, morrer, viver...Queria arrancar aquela bala do meu corpo e respirar o alívio. Vi todo meu sangue escapar de mim como um rio que transborda em dias de chuva. Eu vi toda a minha vida passar como um sopro. A minha história contraiu-se em um segundo. E aquele segundo parecia não passar. Depois de me dar conta do meu estado de inconsciência, senti uma imensa vontade de gritar. Mas ninguém estava lá. Só eu e o meu corpo ferido. Estendido ao chão, sem força, sem voz...Alguém precisava ouvir o que minha cabeça pensava e o meu corpo sofria. Pensei que ninguém jamais saberia. Mas aqui estou eu, a relatar o que me aconteceu. Só não sei o final da história. Não sei se o meu corpo morreu. Não sei se o meu eu viveu.

quarta-feira, março 22, 2006

Surdez...

Em função da perda auditiva da minha vovozinha, tenho sido ultimamente os seus ouvidos, além das suas muletas, é claro. Fico pensando nas diversas possibilidades que existem da gente se desconectar do mundo, e não ouvir me parece bastante intrigante. A gente fica impossibilitado de reagir aos ruídos das transformações que acontecem lá fora. Derrepente o mundo começa a desmoronar e a gente se quer se daria conta, não fosse a poeira das coisas desabadas. Algumas vezes desejei o sossego dos surdos, ou algum dipositivo qualquer que me tornasse alheia aos meus ruidos internos. Aqueles provocados pelas confusões, pelas transformações, pelos medos, pelos desejos....Ah, os desejos....tenho medo do que NIETSCHE tem me dito a respeito dos desejos....Mas vou me concentrar apenas nos meus desejos momentaneos de alienação auditiva. Pouco a pouco, ela (minha vó) está aprendendo a técnica da leitura labial, mas às vezes, por mais que ela tente fingir um entendimento, é nítido que a mensagem não foi compreendida, pois as respostas se resumem a um aceno de cabeça indicando um sim. Compreensivel, pois sim é uma resposta que se encaixa em quase todas as questões. As vezes, muitas vezes, a gente diz sim por estar sem saco de tentar entender bem o que está sendo questionado. Eu tenho dito muitos sins!! E não me perguntem porque, pois me parece bastante cansativo procurar entender. Semana passada, nostalgicamente, arrisquei uns sons de flauta, para sobrepor às ondas sonoras dos meus - peço licença para o neologimo- "insilenciosos pensamentos". Se essa surdez deliberadamente procurada der sinal de vida, vou imitar vovó, e sem pensar muito, com a cabeça direi "SIM"