quarta-feira, junho 30, 2010

Chegando em Lima

Essa cidade parece que me engole. Cèu cinza. Arrnha cèus. Um homem tenta me arrancar o relogio logo as 6h da manha. Ficam arranhoes na minha mao e fragmentos das suas unhas sujas. Avenidas. Carros. Mac Donald. Predios em construcao. Cruzamentos sem semàforos. Buzinas. Caos. Palavras que me grudaram na cabeca desde o inicio da manha. Visto na iminencia de vencer. Vontade de ir, desejo de permanecer. Quatro pès na estrada. Dois deles se adiantam. Corro pra alcancar. Me doi a cabeca. O nò que nao se fixa nos cadarcos do meu tenis, me atrapalhando o caminhar, nao sai da minha garganta. Preciso ver o mar!! (O pacifico esta a umas 4 quadras daqui). Frio. Movimento de cidade grande.. Pontes. Onibus. Avenidas Largas. E o meu espaco eh apenas a cama 6 do quarto 305. Ealgumas linhas do meu caderno de capa marrom, onde posso me derramar. Uma necessidade latente de ficar so. O que foi mesmo que eu vi ontem? TEnho 52 dias para digerir. Que estranho. Estou sentindo uma imensa saudade de mim...
A partir do dia 8 de julho, meu reloginho comeca a funcionar. O FDP do agente de imigracao em Puno me deu um visto de apenas 30 dias, quando o comum eh 90 dias. Acabo de voltar da oficina de imigracao aqui em Lima, e nao existe a possibilidade de renovacao do visto, eu teria que sair do pais e voltar (burrocracia!). Caso contrario, cada dia que exceder os 30 dias de visto me custarà U$ 1,0. Ainda falta Huaraz, Trujilho, Iquitos, Mancora e Tumbes...duvida cruel!

terça-feira, junho 29, 2010

Nasca
















Quietinha menina, sao so 35 minutos de voo. Eu pensava que fosse mais retada, mas parece que os 28 anos estao pesando nas minhas costas. O sobrevoo para avistar as linhas de Nasca eh um grande desafio. Voce deve ter controle suficiente para nao se deixar abater pelos constantes "frio na barriga" e enjoos em funcao das manobras radicais que a aeronave faz para que cada passageiro consiga visualizar da melhor maneira possivel cada desenho la em baixo. A idèia da dimensao deles so è possivel quando se avista um caminhao la em baixo e entao se pode comparar. A maioria dos desenhos (se nao todos) sao feitos com um unico tracado, como se "sem tirar o lapis do papel". A palestra com Victoria, depois do sobrevoo, com o custo de 20.00 soles, ajudou a esclarecer um pouco e a entender que as linhas de nasca sao muito mais do que simples desenhos e compreende alem deles, milhares de linhas com um significado relacionado a estacoes do ano, localizacao da àgua subterranea, etc, etc, etc...Coisas que nao cabe aqui explicar.
Pra quem pretende sobrevoar para avistar as linhas de Nasca eh preciso ter estomago, na verdade, acho que eh melhor nao tê-lo.

Recomendo fechar o voo com Maria Segura, representante da empresa aerocondor. Ela faz um precinho especial para latinos e ainda oferece uns tours para conhecer o semiterio, ir ao mirador, a um museu de ceramica, oficina de ourives.

Conexao Brasil - Espanha




Mama Africa - Cusco - Peru




Daniel (Peru), Isa (Brasil), Nick (Australia), Andrew (Australia), Raymond (Canadà) e Yo!

Nick e Andrew - Australia


Eita casal que amo!!!!!
Depois de dias extremamente agradaveis no Pantanal e em Santa Cruz, pude reencontra-los em Cusco.

Galera do Brasil em Cusco






Depois de sofrer na trilha inca...
galera, adorei a companhia!!!
Faltou Borraacha, Mola, Everton, Yoko, Bia, Isa, Cintia, Claudinha, Simeon e Gil

segunda-feira, junho 28, 2010

Sabina


As vezes parece que visitar o feira semanal, estar no mercado, na rodoviaria ou simplismente no banco da praca eh a melhor forma de conhecer uma cidade. Ontem fui curtir minha dor de barriga, provocada por 2 hamburgueres consumidos na madrugada anterior, no banco da plaza de armas para aproveitar o sol. Nao achava que existisse domingo numa cidade turistica como Cusco, mas de fato ha. Um domingo com cara de domingo. Ruas desertas, estabelecimentos fechados, poucas pessoas transitando pela rua. Mas a praca be movimentada. Os peruans saem para passeaar no domingo, que bom! Ver a cidade se movimentar com a cara das pessoas que vivem là. Estava eu sentada, e derrepente me vem uma velhinha, baixinha, quase sem dente e com um sorriso dando um laco nas orelhas, senta-se a meu lado e me pergunta de onde sou. E eu que pensava que ela ja tinha maximo que um sorriso pode alcancar, quando disse de onde era o vi triplicar de tamanho. Brasil!!!! As pessoas do Brasil sao muito legais. As milheres sao muito lindas e comecou a me contar as suas historias. Eu que ja nao gosto disso, fui alimentando o papo para me deliciar (ou me entristecer) com mais uma historia de vida. 62 anos, parecia ser mae da minha avo que tem mais de 80. Pequena, fragil, sem dente. Vive sozinha num povoado cerca de Cusco e nenhum dos seus 5 filhos e 10 netos vao visita-la, apesar de morarem perto. O que faz durante o dia? Limpa a casa, cuida das galinhas, das suas flores que tanto ama, das poucas coisas que planta. Tem visinhos, nao muito amigaveis. E se fica doente, se cuida sozinha atraves dos seus chas. Eventualmente vai a Cusco vender os brincos que a sua filha faz. Me chamava de mamà o tempo inteiro, uma forma carinhosa das pessoas se tratarem aqui em Cusco. Despediu-se com um sorriso, o sorriso banguela mais bonito que ja vi, e partiu.
Na rodoviaria, as duas horas de espera para o onibus pra Nazca foram amenizados pela companhia da crianca que brincava com seus utensilhos de cozinha. Ela falava somente queichua, entao, so podiamos nos comunicar com a linguagem universal, tao bem compreendicda pelas criancas. O sorriso! E iam surgindo outras, que se comunicavam com a mesma linguagem e gargalhavam ao subir e pular do banco de espera. Eu poderia dispensar horas do meu dia, so para observar esses movimentos que tanto me encantam....

sexta-feira, junho 25, 2010

Anayda - Uma grata surpresa na trilha inca.


Quando lhe perguntei o que queria ser quando crescer, ela nao sabia o que significava isto. Depois de explicá-la com exemplos, ela concluiu: Uma tienda, yo quiero tener una tienda! (Continuar vendendo água e suco, como faz hoje junto com a mae e a irma). Diferentes oportunidades, diferentes nocoes de mundo, diferentes perspectivas...

Mr QQ, pela ultima vez


Infelizmente, desta vez nao foi tao por acaso assim. Haviamos informado por email o nome do albergue. Quando eu voltava do supermercado, encontrei-o na rua, procurando a hospedagem recoleta...

Saudades desta figura!!!!
E falando em referencias, foi uma sensacao tao interessante esta. Depois do segundo dia de caminhada na trilha inca eu senti uma saudade do meu canto, uma vontadee de voltar pra casa. Mas este canto nao era no apartamento de D. Mirian e Seu Medrado la no cabula. Era a habitacao 2 no Hostal Recoleta em Cusco. Acho que estou me acostumando a ser nomade...

Passeio preguicoso em Cusco

Nando Reis cantou uma vez que o segundo sol viria para realinhar as orbitas dos planetas. Meu segundo sol em Cusco foi o Dr Ilya E. Gomon, quiroprata canadense que realinhou toda a minha coluna, detonada pela mochila e postura inadequada nas longas viagens de onibus. As duas primeiras secoes ja me aliviaram bastante. Ainda faltam duas. Torce daqui, torce dali e ja esta quase tudo no lugar. Mas em parte, esta tal dor de coluna que irradiava para a perna direita - consequencia da compressao do nervo em funcao do deslocamento das vertebras, nada grave - me rendeu um bom passeio preguicoso em Cusco, acho que estou comecando a gostar desta modalidade de turismo. Com as proximidades do Inti rayme, a cidade toda ja está em festa. Um colorido deslumbrante e vários grupos, sobretudo de criancas, desfilando como num carnaval, com suas dancas peculiares.

O roteiro ja estava tracado. Igrejas, museus, monasterio, mercado municipal...O grande erro - ou talvez o maior acerto - foi ter comecado o tour independente pela Plaza San Blaz. Foi lá que conhecemos um grupo de malabaristas chilenos, peruanos , argentinos e colombianos dinamizando a praca com seus treinos nas mais diversas modalidades. Perguntei a um deles ha quanto tempo havia chegado em Cusco. "pouco tempo, apenas uma semana". Eu ainda me surpreendo com essas diferencas de referencial. Na minha viagem, que eu julgava longa, se fico 5 dias em uma unica cidade, ja considero muito tempo. Melhor ainda foi ouvir o outro falar que conhece o Brasil, mas so deu pra conhecer o nordeste, pois passou pouco tempo, um ano.

Almoco: Risoto de Quinua com queijo e file de alpaca (to ficando viciada nisto). E na Plaza das Armas, na linda Plaza das Armas, reencontro com Daniel. Peruano nascido na selva que nos deu o imenso prazer da companhia sentados na praca aproveitando os raios de sol e dando boas risadas. Algumas dicas para chegar a Iquitos, o que nos levou a concluir que teriamos que descartá-lo do roteiro, pois, ja que nao poderiamos pagar os cerca de 120 dolares nos trechos aereos partindo de Lima, teríamos que dispor de 4 dias de viagem com trechos de barco e onibus, apenas para chegar lá. Experimentamos o tomalito, uma comida tipica daqui que parece uma pamonha. Feita também de milho, recheado com um molhinho apimentado com cebola, quinua e azeitona. sensacional! (to ficando viciada nisto também).

Querosene nao foi possivel comprar. Entao, o reencontro malabaristico a noite foi sem o calor do fogo. Mas valeu a troca. O aprendizado de novos truques, novas modalidades, novos movimentos, ou simplismente por conhecer um pouquinho mais a história de outros com referencias tao diferentes.

E assim se vai mais um dia em Cusco. Umbigo do mundo. Cidade que realmente te faz pensar que uma semana é pouco demais para experimentá-la.






Eles sao o camiño inca!

Eu nao, eles! Foi a sua resposta quando lhe questionaram se era aquela mochila grande que ela iria levar para a trilha. Eles, aos quais ela se refere, nao sao burros de carga, e sim os porteadores. Homens - ou talvez um pouco menos que isto, pela maneira como sao tradados - que carregam as nossas barracas, nosso alimento para os 4 dias de caminhada, nosso lixo, e de alguns, os excessos. Segundo Simeon, o nosso guia, a legislacao determina que o peso maximo por porteador deve ser de 20kg, porém, como nao existe nenhum controle, este peso pode chegar facilmente a 30 kg. Lembro de ter visto como recomendacao de algum especialista que o peso maximo nao deve exceder 10% da massa corporea. Seguramente nenhum deles pesava mais de 100kg...

Eles sao os protagonistas do tour e agem como meros coadjuvantes. Nao nos olham nos olhos, passam sempre por nós de cabeca baixa, como se estivessem ali simplismente para servir. Dá pra se sentir em uma peca de teatro. Eles passam correndo na nossa frente com aquele peso desumano nas costas para para preparar todo o cenario de almoco ou pouso nos pontos de apoio. Barracas armadas, tendas de refeicao montada, mesa posta (sim, havia mesa, banquinho, toalha de mesa, um copo pra cha, um copo pra suco. Luxos altamente desnecessarios.). As refeioes nos surpreendiam a cada dia. Sempre uma sopa diferente como entrada, um prato principal bem balanceado, que nao se repetia nenhum dia, seguidos de um chazinho para ajudar na digestao. Comemos peixe, frango, muita salada - O clima frio ajuda a conservar. Todos os dias erámos acordados por eles com um cha bem quentinho (sim, de coca). Ótimo para acordar e despertar nas manhas frias da altitude. Quando levantamos para tomar o cafe da manha, eles correm para desmontar as nossas barracas e depois da refeicao comeca a correria para lavagem dos utensilios naquela agua congelante do rio. Arrumam tudo para seguir em frente e repetir tudo, preparando o cenário para a próxima parada. Eles nos recebem com um suco fresquinho, depois que chegamos acabados no acampamento apòs subirmos e descermos montanhas com as nossas singelas mochilas de nao mais que 5kg.

Agem como invisiveis. Mas e impossivel nao notá-los. Quando se pára no topo da montanha e comeca a nascer aquela sensacao de vitoria, conquista e superacao, passam dezenas deles por nos, encurvados como animais, com um peso surreal nas costas, correndo para que o espetaculo dë certo e "estraga tudo". É impossível nao notá-los. E a sensacao de vitoria vai esmaecendo, pois neste momento percebemos que para estarmos ali alguem está sendo praticamente escravizado. Eu pude notá-los! E perceber que eles nao usam calcados adequados, sao sandálias de pneu. Nao usam mochilas com todas estas tecnologias das quais dispomos, como alcas reguláveis, tecido especial para transpiracao, compensacao de lombar, blá, blá, blá...Suas mochilas sao, na sua maioria, sacos de naylon, daqueles utilizados para transportar alimentos, com uma alca imrovisada. Eles descem aquelas centenas de degraus irregulares correndo. O prazo de validade dos seus joelhos, coluna e tendoes tëm um lapso de anos. Eu pude notá-los, e percebe-los significava toda uma confusao de sentimentos, pois a sensacao de estar se aproximando de Machu Pichu, se aproximando da realizacao de um sonho, era bombardeada pela indignacao, compaixao e revolta de vë-los trabalhando em condicoes tao sub-humanas.

A maior alegria de chegar nos pontos de apoio antes do grupo era poder sentar ao lado deles, poder trocar algumas palavras, vendo-os erguer a cabeca para conversar, conquistar deles o "olhar no olho" e um sorriso timido, sempre com expressao de cansaco. Isso foi mais bonito do que ver a cidade sagrada dos incas. Aliás, eles sao proibidos de entrar em Machu Pichu. Poluicao, talvez. No ultimo dia, todo o grupo precisa acordar antes das 4h da manha, pois eles tem que correr para pegar o trem das 5:30 em Águas calientes para ir até Cusco, deixar o seu "fardo" na agencia e depois retornar pr conta propria ($) para o povoado onde vivem. Perdendo este trem, o proximo so äs 22h. Eles também sao proibidos de entrar no trem utilizado pelos turistas.

"No Brasil também é assim?" - Foi a pergunta de fugencio referindo-se ao trabalho deles. Lembrei do Vale do Pati, onde as mulas levavam nossos alimentos e cada um os seus pertences e barracas, mas fiquei com vergonha de falar, pois ele mesmo ja havia se comparado a um animal minutos atras. "Somos serranos" - Foi o que um deles respondeu quando perguntei se ja tinha visto o mar, como se @ sua casta nao fosse permitido. "Ah, salcantay!, por que pra lá sao os animais que carregam o peso, eu vou pra lá como ajudante de cozinha" - Eustáqui respondeu quando perguntei qual a trilha que ele preferia ´para ir a Machu Pichu.

Se um turista quiser contratar um porteador para carregar sua mochila (leia-se excesso), é necessário pagar a agencia U$ 80.00 extra, porém este dinheiro nao é repassado para o porteador. Por todo esforco nos 4 dias eles recebem 100 soles. Isso mesmo, 100 miseros soles peloes 4 dias de trabalho! Segunbdo eles, so a propina (gorgeta) que faz valer a pena. Portanto, se vc for fazer a trilha inca va preparado para retibui-los, eles merecem!!! Perguntei a Fugencio por que eles nao se organizavam em cooperativa para que o turista pudesse contratá-los diretamente. Segundo ele, esta cooperativa existe. Existe também um presidente e um tesoureiro que recolhe as contribuicoe$ deles e somem no mapa (FDP!!!!!!!). Com todas essas historias nao tem como nao chorar.

Existem cerca de 12 trilhas para chegar a Machu Pichu. Com certeza preciso voltar lá por outra trilha com condicoes diferentes desta. Eu nao fiquei feliz. Nao foi forte como pensei que iria ser. Forte foi ve-los todos ali. A todo tempo com expressao de esgotamento e dor. A TRILHA INCA SAO OS PORTEADORES! E como forma de homenagem - ou protesto - as fotos desde o km 82 até a cidade sagrada dosa incas que vou exibir aqui serao simplismente as fotos deles.

Muito obrigada Fugencio, Alcides, Juan Sergio, Roberto, Eustáqui e todos os outros 10porteadores do meu grupo, dos quais infelizmente eu nao consegui decorar o nome.