quinta-feira, dezembro 14, 2006

No canto da sala transpirava o excesso de alegria
No canto da sala dançava e não sabia
Não sabia sorrir, de tão fria...
Seu desejo de cantar, aos poucos se esvaía
E de tão alegre que estava, transbordou-se de vazia
Quem olhava pra ela, mesmo atento, não via
Que um quê de tristeza, no canto da sala se escondia
O canto da sala, com seu canto secreto se confudia
Não era só alegria,
Mas ela podia, ela não queria...

terça-feira, dezembro 05, 2006

Pena, pluma, ou algo mais leve, talvez
Pra eu me livrar da resistencia do vento de vez
E viver passeando no céu
Nas nuvens, onde andam meus penamentos
E por onde andam meus pensamentos?
Estou viva e nem sei quem estou
Já desejei ser água,
Mas hoje eu quero voar
Sentir a emoção da folha ao despencar da árvore
E o tempo infinito até alcançar o chão

As minhas folhas amarelaram,
Caíram leve, e eu sequei!

Não quero criar raízes,
Estou me concentrando em ser ar
Estou tão só, mas há prazer em estar comigo
E tentar descobrir como eliminar a minha densidade,
Evaporar de vez todos os traços de mim
E me libertar pra sempre da necessidade de pisar no chão.

Preciso aprender a voar!

terça-feira, novembro 28, 2006

Já ia esquecer de comentar uma questão que tem me intrigado. Vi nos jornais estes dias que o numero de furtos e sequestros relâmpagos aumentou no Rio de Janeiro, e que isto tem uma ligação com o tráfico de drogas. Como as vendas da cocaína caíram, em função das novas drogas disponíveis no mercado (Extase, por exemplo), os marginais do tráfico estão migrando para outras atividades. Meu Deus, será que para reduzir estes crimes os cariocas terão que desejar o aumento do consumo da cacaína? Eu hein...

Ah, ontem vi uma coruja em cima do muro daqui de casa (existe uma superstição não muito boa a respeito de corujas). Depois apareceu um gato preto e hoje de manhã acordei com três passarinhos que vieram comer a banana que coloquei lá pra coruja. A natureza sempre dá um jeito de amenizar meu stress...

Lenine-Gênio!!!

"Precário,provisório,perecível
Falível,transitório,transitivo
Efêmero,fugaz e passageiro

Eis aqui um vivo

Impuro,imperfeito,impermanente
Incerto,incompleto,inconstante
Instável,variável,defectivo

Eis aqui um vivo

E apesar
Do tráfico,do tráfego equívoco
Do tóxico do trânsito nocivo
Da droga do indigesto digestivo
Do câncer vir do cerne do ser vivo
Da mente, o mal do ente coletivo
Do sangue, o mal do soropositivo
E apesar dessas e outras
O vivo afirma, firme e afirmativo

"O que mais vale a pena é estar vivo"
Não feito, não perfeito, não completo
Não satisfeito nunca, não contente
Não acabado, não definitivo

Eis aqui um vivo

Eis-me aqui"

Lenine-Vivo

sábado, novembro 25, 2006

À beira do abismo

(Em homenagem a Dé)

Estou a três passos de virar amor.
Disseram-me que precisaria aprender francês,
O que me parece inútil...

Comprei uma saia de chita, acho que combina com amor.

Estou a três passos de ser totalmente consumida pela chama viva
Mas o que há de queimar em mim, senão o próprio fogo do amor eterno, que por três passos não se confunde com meu próprio eu?

Amo receber flores de Abelardo,
Ainda mais quando ele elogia o meu vestido azul
Com seu olhar azul que é só mar

A três passos do amor, sinto o cheiro de amar presente
Pitangas alaranjadas com textura de caqui...

Sinto o frio na barriga da roda gigante
E uma esperança cintilante de poder eternamente flutuar

Três passos apenas me levarão ao abismo infinito de ser amor,
De ser amar
Tenho a sensação que isso, ao mesmo tempo, me fará oceano


Queria tanto ser água...

sexta-feira, novembro 24, 2006

quinta-feira, novembro 23, 2006

Hoje estive conversando com uma amiga sobre dejavour (Nem sei se é assim que escreve). Aí lembrei de um texto que escrevi ha alguns anos quando estive a pensar sobre isso. É como se fosse uma abertura acidental de uma válvula que permitisse que tivessemos consciencia das coisas no exato momento em que elas acontecem, então, no momento posterior em que as sentimos de fato (momento este no qual normalmente nos apercebemnos dos acontecimentos), temos a capacidade de lembrar da experiencia anterior. E esse tempo morto pode levar um período desconhecido...

Por issso, vou postar o referido texto aqui

Estrelas

O brilho da estrela que vejo
Me conta o passado.
O deslizar das horas pelos centímetros espaciais.

O que está acontecendo lá fora
Neste momento eu não posso saber
Ficarei a mercê de alguns anos-luz.

E o que se passa comigo agora,
Em que instante aconteceu?
O que se passa comigo agora,
Em que instante saberei?
Qual o abismo que me separa de mim mesmo?


A estrela que o brilho eu vejo
Já não sei se existe mais.
E eu, sentindo-me agora,
Será que ainda sou?
Quando saberei se o meu brilho já se apagou?


A solidez do presente se dissolve
Dissolve também a certeza.
Ver não é mais garantia
Ser, já não é convicção.

As estrelas enganaram por séculos a ciência
E continua obscuro
O mistério da duvidosa existência.

terça-feira, novembro 21, 2006

Engravidou de si mesma. Colocou no seu ventre sua própria semente e eis que germinou! Sentia por si tão profunda estima que resolveu perpetuar-se, reproduzindo cada detalhe conhecido seu. Passou a vida inteira ocupando-se em perceber-se e agora dominava os passos essenciais para sua construção.Sempre desejou a sensação de enxergar-se a partir de dentro e sentir-se internamente a partir dos limites da sua estreita camada exterior. O corpo, faria igual? Ou deixaria-o crescer natural? Se ele fosse mesmo o reflexo do conteúdo infinito interior, cresceria e tomaria as formas identicas ao corpo atual. Deixou-o livre então...Experimentou o deleite de ser tenra e madura na mesma criatura. Engravidou de si mesma e desejou eterna a sua gestação, para sentir-se crescendo dentro de si num processo eterno de perpetuação. Ia nascendo aos poucos e morria um pedaço a cada nascimento seu. E assim viveu por um tempo desconhecido. Como nós mesmos, que não sabemos reconhecer quando morre uma partícula da alma. É preciso calma para renascer...

Um post atrasado

Burn one down

Eu me senti lá denovo
Essa canção me levou pra lá outra vez
Senti o cheiro daquela tarde
Fiquei paralizada com as lembranças
Que estavam adormecidas em paz
Queria tanto não lembrar mais,
Mas aqui estou eu...lá outra vez.

Senti o vento que penetrava em meus póros
E vi as folhas dançarem em rítimos mil
Ai meu deus, esta canção...
Pensei que tivesse esquecido,
Mas aqui estou eu...lá outra vez.

Eu senti toda a magia denovo
Meu corpo reagiu trêmulo a estas sensações
Que se empregnaram doces na memória
Na alma, e em outras dimensões
Eu vi denovo a flor melancólica,
Eu vi denovo a lua no céu
Senti aquela tarde emoldurada nesta canção
Eu não queria sentir mais isso,
Mas aqui estou eu...lá, outra vez.

[14 junho 2003]

domingo, novembro 12, 2006

Estou por aki para dizer que ainda estou viva, apesar de sem inspiração. O que pode soar como um paradoxo, mas que seja então...
Deveria postar as fotos do ultimo feriado, mas realmente não ficaram boas. Na minha memória estão todas vivas. A lua. O céu. O mar. O silêncio. O canto dos pássaros. O brilho dos olhos. A moqueca de camarão.
Engraçado, tenho pensado esses dias que a gente poderia poder "dar um CTRL Z" em todas as coisas que a gente faz. Um documento q a gente rasga e depois descobre que não era pra ter rasgado. A roupa que a gente tintura e descobre que a cor não ficou legal. O e mail enviado. O móvel que a gente muda de lugar. A pílula ingerida e tantas coisas mais...Talvez esta impossibilidade seja positiva, pra gente ficar mais atenta e evitar de fazer as besteiras que a gente faz.

domingo, outubro 29, 2006

A livre prisão de um sonho

Essa noite tive um sonho,
Sonhei que eu era um sonho sonhado por alguém
Tive medo de abrir os olhos
E descobrir que tudo não era sonho apenas,
Tive medo de quem me sonhava
De repente acordar
E eu desaparecer.

Estou sonhando dentro do sonho de alguém,
Um alguém que também é só sonho
Outro sonho sonhado numa estação de trem

Talvez eu esteja tão acordada
Que não perceba o sonho que sonharam de mim
Começo a ficar desconfiada
Que tudo que vejo foi eu que criei
No meu subsonho...
Mundo que eu mesmo inventei.

Vidas são universos infinitos
Sonhando juntos sonhos distintos...

Agora, de olhos abertos, tento entender o meu devaneio.
A minha existência é um sonho
Dentro do sonho de quem desconheço

Mas onde será o começo do fim?
Quem irá despertar primeiro?
Eu, que sonho a minha vida,
Ou aquele que, sonhando, trouxe vida pra mim?

Acordar será encontrar o caos
E no caos descobrir
O poder de despertar o sono de quem me sonhou

Serei sonho do meu sonho apenas
Serei sonho do cosmo e só!
Fusão suprema de cada universo sonhador
Aquele que nos adormece
Com o qual encontramos ao despertar
De onde partimos,
Pra onde retornamos
Vivendo a história que nos for dada a sonhar

Agora já não sei o sonho que me acorrenta
Já não sei se pretendo me libertar.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Hoje, flores lilás espalhadas pelo chão me fizeram lembrar que é primavera e me arrancaram sorrisos logo pela manhã. Estou primavera! E coincidentemente visto lilás. Me agrada esta sincronia natural.

Felicidade é reconhecer beleza nas coisas mais simples da vida...

terça-feira, outubro 24, 2006

Braimstorm de Paixões

Montanha. Pôr-do-sol. Flor. Banho de mar. Cachoeira. Nuvem. Estrela. Andar descalça. Sabores. Texturas. Lilás. O novo. O belo. O imprevisível. O não entender. Poesia. Canções. Livros. Sorvete com batata frita. Brisa. Amigos. Violão. Verde. Devaneios. Sonhos lúcidos. Leveza. Profundidade. Tomate. Cheiro de chuva. Chuva chovendo em outro lugar. Viajar, viajar, viajar!! Derramar-se em palavras. Cinza. Mudanças. Orégano. Sorrisos. Brincos. Confusões que transformam. Ação. Cochilo de tarde. Rede. Caminhar sem destino. Saias. Sons de flauta. O simples. Céu estrelado. Céu nublado. Céu negro. Céu azul. Estar em sintonia. Sentir, sentir, sentir!! Viver. Deixar fluir. Apaixonar-se. Desacostumar-se. Lembrar-se. Escquecer. Matar saudades. Camping. Malabares. Rítimos. Movimento. Água. Ciclos. Equilíbrio. Caos. Vale do Capão. Olhar expressivo. Evolução. Aprendizado. Coco gelado. Suco de Tiga. Abraço apertado. Acarajé. Girar. Silêncio. Pinturas. Maçãs. Experimentalismo. Filtro do sonho. Números. Vida. Desapego. Árvores. Canto de pássaros. Fotografias. Borboletas. Diálogo. Sementes. Pessoas. Descobertas. Transformação...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Estranha Nitidez

Vejo a amplidão da minha existência
Isso me apavora!
Pálida luz nos olhos da criança
Que, alheia, na calçada descansa
Horas caminha descalça, sorri.
Por um instante meus olhos abriram-se para o mundo
Estranha nitidez!
Não,
Não me atormentem com a vida que acontece
Nas tardes de abril
Tirem-me daqui
Devolvam-me o tempo em que as horas passavam
E os grãos da ampulheta caindo não me importunavam os ouvidos
Excessivamente grave é a minha lucidez!
Já não pretendo o absolutismo das coisas
Basta-me um sorriso mudo num semblante cheio de dor.
Uma brisa gostosa acaricia meu rosto
Mas intensos demais são os raios que me ultrapassam a retina
Aperto bem forte com as mãos os meus olhos
Procuro o alívio dos cegos
Estranha, muito estranha nitidez.
Bato portas,
Fecho janelas
Amarro-me à cadeira da sala com a linha do equador
Não quero ver-te,
Sentir-te
Prefiro a ignorância dos tolos
Atormente-me esta tão estranha nitidez.

terça-feira, outubro 17, 2006

Atravessou a rua distraída, olhou para os lados de forma automática, sem prestar muita atenção. Viu na calçada um mendigo deitado, mas nada que não fosse normal. Repentinamente o olhar de Frederico cruzou-se com o seu. Reconnheceu ali um brilho familiar e teve a impressão de que, algumas sensações, os anos pouco conseguiram apagar . Os carros que passavam interrompiam o momento infinito do reencontro. Incrível como preservava o mesmo jeito de pegar nos cabelos e a maneira iluminada de sorrir. No instante eterno em que os olhares se cruzaram disseram em silêncio todas as palavras que ficaram por ser ditas. E não menos estranha foi a sua maneira costumeira de partir...

segunda-feira, outubro 16, 2006

segunda-feira, outubro 09, 2006

Zé [Vanessa da Mata]

Você dita ao meu coração
O que ele não quer aprender, Zé
Você quer que o meu coração
Siga a tua receita só
Não, quero que aceite
O jeito que eu te dou de mulher
Não, e aproveite
O resto o tempo dá jeito

Mesmo que tenha a minha oração
Que você dispensa Zé
Você faz com que o meu coração
Siga a tua beleza só
Vá lembrar a tardinha
Quando nos conhecemos Zé
Havia uma beleza ali
Ou era criatividade minha

Quando andava pela rua
Cor de sol amarelo ouro
Me fitava e eu me avermelhando
Som de jardim de sonho
Zé era seis da tarde
Dia e escuridão
Tinha tom, sino e alarme
Roubando o meu coração

Hortelã, alecrim e jasmim
Ave Maria cantando
Ela tão satisfeita por mim
E eu num galho do sol
Que nem passarinho
Que nem passarinho
Desvanecida de amor
Cor de carmim

domingo, outubro 08, 2006

O que tu és teu

E daí?
Além do teu nome, o que mais é teu?
As roupas que guardas no armário,
O medo que escondes bem fundo,
O amigo que tu conquistastes?
É tua a tua história,
Ou és só parte da história de alguém?
Existirá alguém que possua?
Consolo...

O abraço que tu destes?
As palavras que saíram da tua boca,
A idéia que julgastes louca,
É tudo teu também?

O caminho que tu escolhestes,
Foste tu mesmo que escolheu?
Tu abriste a porta, ou o mundo abriu-se diante de ti?
Entrastes!

É tua a tua conquista?
Teu desejo?
Teu sonho, será que é teu?
Teu destino, tua sorte...
E ao tempo, o que pertence?
O acaso o que te deu?

O teu passado, de quem será?
Viveste.
Carregas contigo a memória
Levas em teus braços os anseios
Da vida que pensastes ser tua

És fragmento e totalidade
A ti nada pertence,
Pertences!
Tu já és o que queres possuir
Teu é apenas teu mundo
Criastes!
Escolheu morrer num sábado pela manhã. Porque sábado de manhã é sempre um dia feliz. As crianças comemoram a folga da escola, a comida é mais saborosa, a praia fica mais alegre e o dia é mais colorido até. Na noite de sexta feira tomou um banho dos mais demorados, disse qualquer coisa nos ouvidos do seu amor, arrumou os cabelos com uma delicadeza irreconhecível, vomitou algumas metáforas e deitou-se para esperar a próxima manhã. Ainda não amanheceu, de modo que não posso contar-lhes até que ponto ela sobreviveu...

sexta-feira, outubro 06, 2006

Bondes

De mim ficou um pouco no bonde
Um pouco de tudo em meus olhos,
Um pouco de tudo em meu tato
De mim, cada parte,
Retrato.

De tudo ficou um pouco bem longe
Um pouco de tudo algures
Um pouco de tudo na história
Do sonho, cada parte,
Memória

Guarda pra ti o retrato
Nele há vida pulsante
Conserva pra sempre a memória
Leva-a contigo em todo bonde,
Pra longe...

Do bonde, em mim, a saudade
Imagem que o tempo adormece
Poeira alguma a alcança
Do bonde, o ruído,
Lembrança.

De tudo, cada parte, nos trilhos
Nas nuvens de calor e fumaça
Na bagagem de quem segue em frente
De mim, do bonde,
Semente.

quinta-feira, outubro 05, 2006

O que me roubou a atenção foi um fio de cabelo suspenso no ar, equilibrado pela minha respiração. Estava quase curvando-se para tomar a forma do arco-íris que vi no caminho pela manhã. Na hora do desjejum vi a fala do meu avô nos lábios do meu pai. Ele me disse que se eu conseguisse chegar no pé do arco-íris encontraria um pote de ouro lá. Queria ter escutado isso na época em que se podia acreditar, mas sorri. O caminho para aula tem sido uma diversão. Me distraio com os carros ao redor, observo as árvores que as vezes passam despercebidas, vejo o movimento das pessoas...Hoje foi embalado por Baden Power "Quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém" e senti derrepente um gosto saudoso de acarajé...

Ainda sem título

Folhas amarelas da primavera cobriam o chão daquela manhã de sol tímido. Sentou-se, tirou do bolso um cigarro amassado, fitou-o e decidiu não fumar. Andava meio satisfeito com as suas confusões e temia que, acidentalmente, acabasse por resolvê-las - Cigarro é um poderoso ato de reflexão! Pelas cores do céu podia-se prever que não haveria pôr-do-sol, embora fossem tantas as horas até o entardecer. Pôs-se então a pensar para não pensar. Coloriu de amarelo alaranjado, com pitadas de azul, os seus pensamentos nublados. Novamente, num ato instintivo, puxou do bolso o cigarro amassado, e não menos instintivo foi seu ato de rejeição. Estava infinitamente feliz com as confusões que abrigava. Sentia-se satisfeito por tê-las conseguido criar. Cada uma delas, de maneira peculiar e não muito aguda, desordenava-o, fazendo-o experimentar a sensação desconhecida de emaranhar-se dentro de si. Apertava cada vez mais forte o cigarro, que não voltara a guardar no bolso. Aquele mesmo cigarro amassado que tentava roubar-lhe o encanto da confusão. Deitou-se no tapete amarelo produzido pela folhagem, deixou os braços abertos num ângulo inconfundível de prazer, e olhando para o céu cinza escuro, sentiu-se transbordar confuso de si, num segundo quase infinito. Sequer notou o cigarro amassado cair da mão...


PS.: Aceito sugestões para o título!

sexta-feira, setembro 29, 2006

Estou aqui, olhando pra tela, sem saber ao certo como escrever o que é preciso saltar para fora do pensamento. Hoje um amigo me falou que não consegue enxergar em mim a mesma pessoa que escreve. Alê: Esta sou eu! Não tente roubar de mim a descoberta mais preciosa que fiz. Este não-eu que às vezes escapole é a parte essencial deste eu que você vê. Se eu te contasse que tem uma população infinita morando dentro de mim...
Teve uma emoção que senti esses dias e ainda não consegui traduzir em linhas, mas vale a pena registrar aqui. Arrancaram todas as árvores que moravam nos fundos da minha janela, vão construir prédios, "Reserva Atlântica" é o nome do condomínio, estranho isso! Mais estranho foi eu chorar ao ver que do verde nada restou e não conseguir identificar as causas das minhas lágrimas. Chorei porque cortaram as árvores, ou porque não haveria mais árvores para acalmarem a minha visão? Chorei porque os pássaros perderam seus ninhos, ou porque não haveria mais canto de pássaros pela manhã? Engraçado que descobri que o canto mais doce que escutava ao acordar é de um pássaro que vive numa gaiola na janela do vizinho do primeiro andar. E eu que pensava que era a sinfonia da liberdade...Hoje ouvi falar de redes neurais, inteligencia artificial...Fascinante! Ando gastando demais, e nem sei o que fazer com as bobagens que compro. Ainda bem que o fim de semana chegou! Estou cansada, a rotina da semana tem me sugado demais...

quinta-feira, setembro 28, 2006

Toda borboleta deveria ser poeta,
Alguém sabe dizer se falta muito pro fim de semana?

quarta-feira, setembro 27, 2006

Há duas pinturas na parede,
De contornos distintos que me confundem os instintos.
Há duas saudades na estante
E um laço de fita que me enfeita o semblante
A moça do sapato lilás sou eu!
Sentada na calçada da cidade desabitada.
Eu quero chover meus sentimentos
E soluçar as risadas que eu não dei.
As duas pinturas me roubaram os pensamentos
E a textura das suas cores, eu pouco sei,
Eu nada sei...

terça-feira, setembro 26, 2006


Estou economizando olho,
Porque olhar em demasia prejudica a convicção!
Às vezes vejo coisas que não posso crer,
Às vezes levo o que vejo pro coração
E do olho a lágrima cai.
Vou observar tudo com os póros agora
Que se contraem automaticamente quando algo vai mal,
Fecho os olhos e vejo a memória do que vi
Abro os poros e permito a energia fluir
Estou com frio,
E não vejo outra saída senão escrever...

[Escrito em 19/09/2006]

sábado, setembro 16, 2006

Cidade

Nessa cidade de ruas estreitas,
De ruas largas,
Enladeiradas
Deixo pegadas que ninguém vê
Às vezes me perco na cidade
Só pra me encontrar
Só pra arriscar te ver
E as batidas de alguns tambores
No coração...
Quero colocar a cidade em mim
Nunca mais me senti assim
Esse deserto
Mesmo sem você por perto
Já consegui sobreviver
Eu sei que posso achar
Badalação e gente por aí
Mas hoje escolhi ficar comigo
Na minha calçada
Na minha cidade desabitada.

[Escrito em Abril de 2003]

sexta-feira, setembro 15, 2006

Felicidade

Mergulhou no mar para sentir-se mais livre,
E sucumbiu!
Primeiro, afogaram-se os sonhos,
Depois as pequenas mágoas,
Como cacos de vidro, sucumbiram as lembranças
Até faltar-lhe de todo o ar.
O mar parecia curvar-se para receber mais uma vida
Que já não era tão mais viva assim
Ondas quebravam na praia
Levando e despejando na areia as sobras de um domingo de sol
Plásticos, garrafas e palitos juntavam-se ao corpo sugado pelas águas
E o vento dançava soprando a rotineira canção.

Felicidade é afogar-se de tão livre
E morar pra sempre na imensidão do mar...

quarta-feira, setembro 13, 2006

A pedido de Deby, e em homenagem a Sara...

O vendedor de palavras

Vende-se três linhas preenchidas com palavras
Palavras doces, suaves, até amargas
Sabe-se lá o que é preciso ouvir...
Segue em anexo sorrisos impressos
Olhares congelados, sabores e excessos.
Três linhas igualmente espaçadas
Para traduzir silêncios no pequeno vão
Vende-se palavras coloridas
Para quem precisa derramar a seiva do coração

segunda-feira, setembro 11, 2006

Saudade,
Torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que eu não sei de onde vem....

Hoje a saudade me dói como uma faca


PS: Trecho de uma música de Caetano

segunda-feira, setembro 04, 2006

Pôr-do-sol

Hoje eu não quero dormir sem ver o sol se pôr
Vou sair por essas ruas engarrafadas
Carros, buzinas, gente apressada
Faróis
Parece que a cidade mudou
Mas eu nunca amanheço igual
Já senti medo de tudo quase
E a sensação de que partia e ficava
Em cada esquina
Em cada vão
Às vezes perdida na imensidão
Perdida num silêncio em que se ousa apenas respirar
Equilibrando gritos roucos
Desejos loucos
Na velocidade das horas que não me pertencem
Hoje eu preciso ver o sol
Ver a bola de fogo ser engolida pelo mar
Antes de deixar a rotina me cegar.

segunda-feira, agosto 21, 2006

...E derramou-se em delicadeza, que exalava o perfume de bromélias azuis
A calçada estremeceu com seus passos firmes,
Firmes de uma delicadeza que fazia confundir gravidade com leveza
Era a delicadeza áspera de um sorriso opaco,
Com textura de sonho que não se recorda mais
Derramou-se intermitente por não caber mais em si
Ocupando com fluxo intenso os paralelepípados,
Os olhos alheios,
As correntes de vento...

quarta-feira, agosto 16, 2006

Fotografia do coração

Nas paredes, nas estantes, espalhados pelo chao,
Livros.
No silêncio interior,
Gritos.
Nos instantes de loucura, a doçura de um sorriso,
Que adormeceu.
Tragam duas resmas de papel para eu derramar meu sentimento
Tragam, em vasos coloridos, sonhos para eu florir.
Quero girar com saia rodada
Cantando com os olhos d'água
as rimas desta canção.
E se as histórias contam que o descompasso é normal
Eu digo "Não!"
Eu tenho o tom, eu tenho o tom...

08/08/2006

*E pra completar, a lua estava linda nesta noite

domingo, agosto 06, 2006

E nó na garagnta, o que é que é? Será que é só tristeza? E como é que a gente chama aquilo que a gente sente e não sabe dizer o nome? Pode ser estranheza? Quero gastar as palavras, pra ver se o sentimento vai junto, mas acabo de vê-las escorregar no trampulim da minha cabeça. Ontem a noite sonhei que plantavam-se árvores no banheiro. E nascia-se macarrão. E brotavam flores amarelas. Foi uma sensação diferente, não menos esquisita do que a que estou sentindo agora. De onde mais brotam flores? Estou murcha, sei que de mim não são. Mas o que eu queria dzer mesmo, é que preciso dizer o que não sei como se diz. E a quem precisa ouvir, não me interessa. Digo calando-me para mim, é um artifício pra tentar me escutar. O nó na garaganta foi bem dado, é como aqueles que se usa no rapel. Devo ter pensado em rapel por estar querendo neste exato momento a sensação de não ter medo, e saltar! É estranho, sei lá...

segunda-feira, julho 24, 2006

Dedicatória do Autor

"...A todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente ineperadas, todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto de eu nesse instante explodir em: eu. Esse eu que é vós, pois não aguento mais ser apenas mim, preciso dos outros para me manter de pé, tão tonto que sou, eu enviesado, enfim que é que se há de fazer senão meditar para cair naquele vazio pleno que só se atinge com a meditação. Meditar não precisa de ter resultados: a meditação pode ter como fim apenas ela mesma. Eu medito sem palavras e sobre o nada. O que atrapalha a vida é escrever.
E-e não esquecer que a estrutura do átomo não é vista mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi. E vós também. Não se pode dar uma prova da existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar. Acreditar chorando..."

Clarice Lispector em "A hora da Estrela"
Vou me divertir esses dias com esta dádiva...

terça-feira, julho 18, 2006

Mas que coisa!

Uma coisa é inutil enquanto simplismente coisa. Fitei uma cadeira e duvidei da sua existência. Uma cadeira só é uma cadeira quando estou usando-a. Minha caneta, meu lápis, meu som...Tantas coisas são sempre apenas tantas coisas. Uma luneta não é nada para mim. To pensando até em comprar uma, deve servir pra olhar pro céu. E que coisa linda é uma estrela. Quer dizer, nem sei se estrelas são coisas. Eu não as uso com muita frequencia, e elas, iponentes , nunca deixam de ser. E o amor, só é amor quando se ama? Tem um moço que amo mesmo sem estar amando-0, de vez em quando fecho os olhos e descubro que aquele amor está lá. Sendo assim, o amor não é coisa nenhuma, pois a sua utilidade reside no simples ato de amar. Mas tem gente que precisa de coisas pra acreditar que o amor existe. Seriam as palavras coisas também? Qual a utilidade da palavra medo? Depois que eu a utilizo para descrever a sensação que tenho quando estou na altura infinita do precipício ela deixa de fazer sentido. Eu digo "medo", você consegue imaginar o que estou sentindo, e a palavra em si, deixa de existir.
Me lembrei de alguém que vivia me pedindo coisas para acreditar no meu sentimento, e um sorriso nunca serviu. Sorriso não é coisa, pois ele se perpetua depois que se encerra o ato de sorrir. É difícil caracterizar o que é de fato uma "coisa". E que coisa esquisita sou eu. Coisa? Tem sido constante o uso que faço de mim, mas não deixo de ser quando não utilizo o potencial que sou. Ou deixo? Meu Deus! Estou me sentindo a cadeira que fitei antes de começar a escrever...

segunda-feira, julho 17, 2006

Felicidade inexplicável


Viva a felicidade,
Abolindo quase toda maldade
Como se o amor troxesse o gosto da infância...

(Não sei quem é o compositor, mas Vanessa da Mata canta)

sexta-feira, julho 07, 2006

Um pedido inusitado

-Então vamos fazer um rangão?

Essa história de Thays se alimentar saudavelmente está me influenciando. Fomos ao mercado comprar folhas, verduras, massa integral...coisas desse tipo.

Eu me assustei quando ouvi a voz masculina atrás de mim. Estava na fila, terminando de enviar uma mensagem pelo celular. Olhei pra tráz e me deparei com aquelas feições que exibiam uns quarenta e poucos anos de cansaço, embriaguez, desgosto e tristeza.

-A senhora pode pagar pra mim? Perguntou ele levantando uma calabresa que fazia escorrer óleo em suas mãos. Afirmei que sim apenas com um aceno de cabeça, e fiquei tentando imaginar quanto custaria (em dinheiro) aquela boa ação. Após um período de silêncio, incomodada com o odor de alcool que exalava dele, perguntei:
- Estava bebendo foi?

Ele negou e começou a repetir aquele discurso comum entre os pedintes. "Eu não tomo nada de ninguém, feio é roubar, aliás, acho até que eu merecia mais do que isso da senhora". O teor das palavras não me agradou, soou como um prelúdio a um assalto.
Nas outras filas, as pessoas olhavam para nós e teciam comentários que eu não consegui identificar quais.

Thays, que tinha ido buscar o pão que haviamos esquecido, retornou e, notando a presença dele, lançou aquele olhar amedrontador que só ela tem, e que é capaz de deixar qualquer um sem ar. Ergueu as sombrancelhas para mim, num gesto de quem pergunta "O que está acontecendo?". E eu, também com o olhar, respondi que estava tudo bem.

-Vai comer isso aí com que? - Perguntou ela
- Com arroz
- Já tem arroz em casa?
- Já sim senhora. Só não tenho casa.
- E a farinha, já tem? Sobrepus a pergunta para não permitir que a resposta anterior penetrasse completamente na minha cabeça.
- Não senhora, não precisa
- Tem certeza que não quer levar o arroz? Thays insitiu
- Não senhora, mas sabe o que eu queria?
Esperamos ele responder imaginando que seria pedido feijão, macarrão, ou um quilo de frango até.

-Um salgadinho, preu levar pros meus filhos.

O olhar de surpresa de Thays foi notório. Lembrei daqueles dias que a gente tem vontade de fazer uma estravagância. Pedir o prato mais caro do restaurante, tomar um pote de sorvetes, beber o melhor vinho, mesmo que isso vá custar um pouquinho mais.

-Quanto filhos o senhor tem?
Ele respondeu com o dedos, e um sorriso disfarçado no rosto, que eram dois.
-Então pegue dois.

Thays ficou preocupada de ele não conseguir encontrar a nossa fila quando voltasse, mas em poucos minutos ele retornou com os dois pacotes de salgadinho na mão - um da elma chips e o outro de qualidade inferior.

-O senhor mora onde?
- Eu não tenho casa não senhora. Sou de Recife e to morando lá no viaduto da fonte nova. Às vezes moro lá, às vezes em um que tem lá em nazaré.
- E como é o nome do Sr?

Fernado José e um sobrenome que eu não consigo lembrar. Este era o nome da criatura suja que nos colocava de frente com a pobreza, a miséria, o frio e a falta de perspectiva.

-E porque o senhor estava bebendo? -Thays não cansava de tantas perguntas
- Senhora?
- PORQUE-O-SENHOR-ESTAVA-BEBENDO? Repetiu ela de forma bem articulada.
-Desgosto da vida! Respondeu instantâneamente. Provocando em mim um silêncio ensurdecedor, enquanto aquela história de vida provocava ruídos intensos em minha cabeça.

-E o senhor tem família em Recife?- Peguntei
-Tenho um irmão
-E ele não te ajuda?
- Não. - Fernado José riu.- Ele é sargento da polícia. Disse pra eu fazer por mim, porque ele fez por ele. As únicas pessoas que eram boas pra mim eram meu pai e minha mãe. Mas eles já morreram. O meu pai, pra senhora ter uma idéia, ao invés de me levar pra morar em um lugar decente, me levou pra morar com um monte de tarado.

Não compreendi a aparente contradição da informação.
-Tarado?- Indaguei
-Sim tarado!

Thays, mais uma vez, com um simples olhar conseguiu evitar que eu insistisse em arrancar detalhes da informação.

Estávamos impacientes porque o cliente da nossa frente tinha desistido de um ítem da compra e foi uma demora insuportável até o fiscal responsável pelo cancelamento chegar.
- Vamos deixar tudo aí e ir pra casa. Não aguento mais esperar. - Sugeriu Thays.
- Não senhora, epere mais um pouco. - Suplicou.

Os seguranças da loja ja estavam se mobilizando com seus aparelhos de rádio e olhares intimidadores.
- Algum problema aí?
- Ele está com a gente. -Respondemos
Ainda ouvi o comentário de um deles "fica dando ousadia, depois quando é assaltada lá fora, acha ruim."

As mercadorias dele foram registradas primeiro, ele embalou-as num saco e estendeu a mão para omprimentar Thays- Aquela mesma mão lambusada que segurava a calabresa pingando óleo. Depois de muito hesitar, ela retribuiu o ato, estendendo-o a mão. O cumprimento foi desses modernos que se dá um tapinha não mão e depois uma espécie de murro. Repetiu o cumprimento comigo, agradeceu-nos e sorrindo saiu caminhando com sua sacola na mão..

47 reais e oitenta e nove centavos foi o valor total da compra. Dos quais 3, 18 era a soma do preço de uma calabreza, um salgadinho da elma chips e um outro de qualidade inferior.

terça-feira, julho 04, 2006

Conto em letras Garrafais

"Todos os dias esvasiava uma garrafa, colocava o seu pedido e jogava-a no mar. Nunca recebeu resposta, mas tornou-se alcoolatra."


*Li este conto no 3° ano, num lembro o nome do autor...

sexta-feira, junho 30, 2006

Uma fotografia viva

Eu vi uma moça que parecia uma fotografia antiga. Pela sua moda defasada, seus cabelos desarrumados e olhar estático. A rua transbordava de transeuntes e eu observava o dia começar apressado pelo vidro embaçado da condução que me transportava para o meu destino rotineiro. Na cadeira da frente uma senhora levantou-se para ceder o lugar a um idoso que estava em pé tentando, a custo, equilibrar-se. Ele estava há horas do meu lado e eu sequer notei, tão distraída que estava com a vida que acontecia lá fora. Era a imagem viva da fotografia antiga que me roubava a atenção. Lembrei-me de uma moldura que tenho de mim quando criança, vestida numa moda igualmente defasada, de cabelos não menos desarrumados e uma magreza aguda que os anos muito pouco conseguiram amenizar. O senhor idoso permaneceu sentado apenas até a parada seguinte, onde desembarcou. Mas aquele trecho curto do trajeto pareceu infinito. Como uma fotografia que eterniza imagens, histórias e sensações.

quarta-feira, junho 28, 2006

Eu respirei bem fundo, para ver se do meu suspiro nascia alguma inspiração, mas nada me ocorreu. Tenho pensado só em equações, em modelos matemáticos, balanços de energia...e daí? Outro dia sonhei que para a minha viagem acontecer seria necessário resolver uma equação diferencial através de série de potências, mas tinha um coeficiente que eu não consegui determinar. Falando em séries, lembrei que estou devendo um post em homenagem a Murilo, meu leitor assíduo, como ele mesmo se entitula. Não sei como mesclar poesia e engenharia. Talvez se eu escrevesse "EU" estaria fazendo isso, pois estou impregnada dos dois. Mas, voltando às séries...o que gostaria de dizer, mas ainda não descobri como fazê-lo é a respeito do vício que criamos de enxergar as pessoas e coisas que nos cercam como formas sintetizadas de uma expansão em séries de infinitos termos, ou simplismente, truncá-las em um ponto, desprezando outros que comprometem completamente a sua essência. Faço isso comigo, cada dia desprezoum termo meu - que posso, com a licença da metáfora, chamar de aspecto- simplismente para simplificar a solução de mim. Mas qual é mesmo o motivo disto? É puro vício! Estava tentando encontrar as minhas condições de contorno, mas agora relaxei, pois a minha viagem aconteceu, mesmo sem que eu conhecesse aquela constante lá que não consegui determinar. Deveria estar assistindo aula de adsorção agora, mas estou de cabeça baixa enquanto ouço falar de sítios ativos, isotermas de Langmuir. Preciso sentir a textura de uma flor lilás para voltar ao equilíbrio das letras e dos números, entre o que é objetivo e o que é sentimento. Vou voltar a assistir aula, da janela da minha sala da pra ver o mar...

segunda-feira, junho 26, 2006

...

Há dias que sou mar,
Há dias que sou caverna,
Há ruídos que sou silencio,
Há segundos que sou eterna...

domingo, junho 04, 2006

Uma frase sem sentido

Estou vazia da poesia. MAs sinto uma vontade pulsante de escrever. Faltam-me palavras, palavras estas que nem sei se existem. Há uns dias pensei nesta frase: "Nos vemos em outubro, quando o sol estiver brilhando mais". Desconheço o sentido disso, nem rima tem. Engraçado que mesmo sem encontrar a palavra exata pro meu agora, eu vou me esvaziando ao escrever. Parece que consigo afastar a estranheza que estou sentindo...

Preguiça

Há tanto o que fazer e eu permaneço aqui imóvel. Mas há tanto o que fazer mesmo! Nos sentidos todos. Sentir preguiça é gostoso, ainda mais quando está frio. Às vezes tenho preguiça até de viver, mas o tempo vai passando sem intervalos e a minha vida vai vivendo por si mesma, em meu lugar, sem que eu participe dela. Ainda não experimentei ficar isenta de pensamento, mas deve ser legal. Agora mesmo tentei: Ficar parada assim, apenas sendo...Engraçado isso, a minha vida ir vivendo absoluta enquanto eu descanso de viver. Mas somos cumplices, muitas vezes já vivi por ela, quando ela precisou se ausentar. Ando preguiçosa por demais. Vou sorrir um pouco, exercitar os musculos...

segunda-feira, maio 29, 2006

Deixa pra lá

Era um crioulo, um albino e um moreno de olhos azuis. Dois deles trajavam um terno escuro de linho e traziam uma maleta nas mãos. O terceiro, não menos elegante, exibia uma gravata estampada sobre uma camisa de seda e um relógio de couro marrom – Mas que tolice a minha, começar uma história pela descrição das roupas. Enxerguei três advogados, mas não era essa a intenção – A verdade é que eram três rapazes, os mesmos crioulo, albino e moreno de olhos azuis, sentados num botequim da primeira transversal com a rua principal tomando cerveja em plena segunda feira. Para ser mais clara, direi que eram três estudantes, recém ingressos na faculdade – pode ser no curso de direito, para aproveitar a idéia da primeira imagem – Mas eles calçavam tênis, um deles vestia uma camisa de um time de futebol famoso. Vejo que não é esta ainda a descrição que pretendo. Vou deixar então que a história seja apenas o crioulo, o albino e o moreno de olhos azuis...

E COMO É?

E não se envolver, como é que faz? A gente suja só a ponta dos dedos e transfere a sensação pro resto das mãos. Fecha os olhos e fica só observando o que tem lá dentro, imaginando se esse lá dentro derrepente saltasse pra fora e caísse no poço fundo daquele que tenta se esconder. Não se envolver se faz ao contrário, soluçando pra dentro, andando em silêncio, cantando sem voz. A gente vai deixando o rio correr, e quando ele estiver bem perto do mar, é só nadar contra a correnteza e voltar pra ilha de onde partiu. Não se envolver é com a ponta dos dedos, a ponta da língua, a ponta dos pés. Mas qualquer ponta de pensamento ou fagulha de sentimento que cai no coração, põe tudo a perder e a gente fica realmente sem saber como é que faz

UM DOMINGO PRODUTIVO

Estive pensando...
Pensei nos antigos amores. Naqueles que não deram certo, naqueles que porventura vingaram e em tantos outros que sequer saíram da imaginação.
Lembrei dos antigos amigos. Daqueles com os quais perdi a cumplicidade por ser tão ausente, daqueles que consegui fortalecer os laços e de tantos que nem vejo mais. Fiz projeções pra saber quais deles realmente ficarão.
Lembrei da mulher catando lixo e dos limites estreitos entre a loucura e a razão.
Pensei nas coisas que estão nascendo e mudando e no medo que elas trazem consigo.
Lembrei da antiga lavadeira da família e pensei na velhice que invade o corpo roubando a força de trabalho e a capacidade de defesa.
Lembrei da minha sobrinha, que está crescendo longe de mim.
Pensei no quanto eu sou esquisita, às vezes.
Lembrei dos meus sonhos que foram se tornando cada vez mais flexíveis. Construí diálogos, criei situações.
Até chorei!
Lembrei do meu cachorro que fugiu de casa.
De uma bicicleta rosa que tive quando criança.
Lembrei de mim, às vezes esqueço disso. Tenho necessidade de mim, mas como nunca é urgente, isso às vezes fica esquecido.
Outro dia estive pensando no que seria um domingo produtivo. Acho que esse foi um domingo deveras produtivo.
Lembrar é estranho, mas fermenta...

quinta-feira, maio 25, 2006

BESOURO SUICIDA

Ele estava andando meio trepido, tentando agarrar-se ao teto, a muito custo, eu diria. Parecia até carregar um peso nas costas, tão torto que andava. Mas, uma vez que estava pendurado ao teto, mais fácil seria pensar que estivesse ele sendo carregado pelo peso que equilibrava-se na camada de ar imediatamente abaixo da sua superfície. Desta maneira, eles estariam caminhando por um corredor infinito formado pelo teto e a camada invisível de ar. E como se estivesse adivinhando a minha tentativa de compreender a sua trajetória e aparente confinamento, ele de repente despencou do alto, ao se aproximar da luz. Não, não foi a luz do meu pensamento, era a luz da lâmpada, que também pendia do teto.

quarta-feira, maio 17, 2006


Numa madrugada dessas assim tão fria? Mas mesmo assim ele caminhava. O vento gélido lhe adormecia a face e tornava fria a temperatura das suas mãos. Ele cruzava os quarteirões numa velocidade, que dava a impressão de ele estar passando pelos carros, e não estes por ele. Não pensava em nada, pelo menos isso é o que tentava fazer. Olhava a todo instante para a sua sombra, que se movimentava num rítimo defasado do seu, dando-lhe a impressão que enfim conseguira libertar-se de si mesmo. Que enfim libertara-se da matéria sufocante que sempre lhe aprisionou. Estava diante de si, fugindo de si, ao mesmo tempo em que tentava alcançar seus passos apressados. Era uma fuga inútil. Parecia impossível libertar-se da forma indisociável que o perseguiu durante toda uma vida. E para sombra, era uma dependencia insuportável, porém necesária. Quase tropeçou no velho fético que dormia na calçada encolhido sobre si mesmo para amenizar o frio daquela noite cinza e muda. Mas em segundos recuperou o equilíbrio e a sombra numa cadência, não menos defasada, em seguida o acompanhou. Não mais suportando a perseguição, cruzou a viela de luzes de postes quebradas e cobriu-se de trevas. Teve a sua sombra projetada no silêncio, buscando o entendimento e aceitação dos seus obscuros e indissociáveis"eus" .

segunda-feira, maio 15, 2006

Saudade

Pela minha janela soprou uma saudade de colorido diferente, trazendo o perfume da presença que não está presente. Nuvens de fumaça perfumada desenharam as formas sutis de um sorriso e vi lábios úmidos rosados sorrindo pra mim. Saudade com gosto de cada centímetro dos gestos inconstantes, que mistura carinho manifesto e carinho contido. Saudade com o rítimo da melodia das palavras, com o brilho dos olhos e a quentura tênue das mãos. Saudade que me fez notar a ausência da presença. Que me fez lembrar da presença da ausência. Saudade que lançou no ar as memórias mais recentes. Saudade que alimenta a espera dos encontros reticentes...

quinta-feira, maio 11, 2006

UMA REFEIÇÃO DIFERENTE

Hoje vou mastigar o tédio. Trinta e duas pacientes vezes, como recomendam os especialistas. Quero testar a minha capacidade de digeri-lo. Uma vez comi a felicidade. Tinha um gosto azul de rosas amarelo avermelhadas, que demorou uns dias pra sair. Acho que vai ser hoje mesmo. É um dia perfeito! Terei a chuva como sobremesa e o canto do rouxinol. Nem sei se rouxinóis cantam na chuva, tampouco se o seu canto combina com o tédio chuvoso triturado e engolido. Estava pensando no acompanhamento: Tédio adora vinhos. Talvez seja o vinho que adora o tédio. Mas não! Seria um risco! Prefiro sentir cada centímetro do deglutir na mais perfeita lucidez. Aliás, a embriaguez é uma forma de fugir do seu sabor.

quarta-feira, maio 10, 2006

Liberdade Cristalina




Derramei uma gota d'água e ela não despencou, ficou suspensa no ar. Linda e imóvel, dando a impressão de que o tempo parara naquele exato momento. Tranportei-me para dentro daquela gota insólita flutuando numa atmosfera cheia de cor. Aos poucos o arco íris foi se formando ao redor. As flores foram dançando a música suave que fluia da emoção de estar presa dentro de uma massa cristalina estática e poderosa, capaz de livrar-se do inevitável fado que toda matéria possui de declinar. Eu vi o mundo através de uma gota d'agua! E experimentei a sensação de flutuar naquela massa de gases quase azuis. Mesmo confinada, foi a liberdade fluida e transparente que experimentei.

domingo, maio 07, 2006

Estranha despedida


Aquele era um abraço de despedida e ela nem percebeu. Os dois foram se abraçando naquele segundo que representava talvez o ultimo adeus. E foram se amando, se envolvendo, se gostando... A moça do sapato lilás olhava nos olhos dele e falava coisas em silêncio sem a intenção de se fazer entender. Com seus olhos úmidos dizia: Não pretendo mais você - Era uma mentira que contava a si mesma, tentando expulsar de si aquele desejo do que não se pode pretender. E ele enchia o ar com palavras, à medida que os silêncios da moça penetravam no silêncio posterior aos ecos da sua voz. Era um adeus que era dito sem ao menos saber se era adeus que se pretendia dizer. Com magia e saudade antecipada foram se amando. Sufocando os silêncios da despedida com onomatopéias de prazer.

quinta-feira, maio 04, 2006


Preciso alimentar-me de pessoas, e não é antropofagia! Preciso, por um outro intinerário, digerir cada aspecto indigesto do ser. Alimentar-me de pessoas, não da matéria que as alimenta - Se é que posso chamar amor, raiva, felicidade ou solidão de matéria. Preciso alimentar-me de pessoas! Não mais de palavras, cores e canções. Enjoei desse sabor insípido que tantas vezes degustei por pura necessidade de salvação. Vou começar por mim. Alimentar-me do meu sossego. Do meu assombro. Da minha felicidade. Alimentar-me da minha ira, sem alimentá-la. Deixá-la aos poucos saciar-se de si mesma, até não mais caber em si, até não mais caber em mim. E neste rítimo, ir me consumindo, me experimentando, me digerindo. E vou provar das pessoas. Sim! Prová-las-ei! As suas texturas, os seus sabores singulares. Preciso deste alimento, tenho agora uma fome que me consome....

segunda-feira, abril 24, 2006

Parei para pensar e nem pensei. Tive essa idéia repentina, mas ela mesmo bloqueou o fluxo natural dos meus pensamentos. Só quando não quero pensar é que penso, e isso tem me tirado o sono. É, de certa forma, engraçado. Fico a imaginar o que poderia pensar e fico só com a imagem nublada do móvel abarrotado de livros a minha frente. Tem até um de capa verde que me chamou atenção. Dizem que a esperança é verde. Pois bem, vou ficar a esperar que esses pensamento cobiçados escorram por um duto ainda desconhecido. Quando chegarem, os escreverei. Meus cabelos estão caindo, e isso não é um pensamento, é uma constatação...

sábado, abril 01, 2006

Rios, risos e choro

Olho esse rio que corre em seu leito
E abre caminhos
Carrega os espinhos
Esconde defeitos.
Eu rio do frio
Rio dos seus lábios sorrindo
Náufrago homem
Nesse rio sem cor
Rio vazio onde nada mais cabe
Nele sucumbe o amor.
Eu rio dos tolos
Rio da graça
Rio tanto que às vezes dói
Rasos rios transbordantes
Densas águas conflitantes
Que carregam o barquinho de papel
Rio do seu destino frágil
Rio do lugar onde vai chegar
Rio um riso fingido
Pesa-me um choro contido
Enquanto o rio corre pro mar
Rios de mágoas
Castelos de areia
Gotas de sonho
Poço de lágrimas
Posso de lá gritar
Grito em silêncio do fundo do rio
Grito de onde ninguém pode escutar
Rio de mim quando rio
Rio ao ponto de chorar
Rio dos cacos quebrados
Que pelas águas do rio são sugados
Esse rio esconde mistérios
Rio de quem ousa desvendar
Rio de estrelas
Rio de dúvidas
Rio e águas também
Rio do meu próprio tombo
Depois no meu canto choro
E a dor não demora a passar
Ri o riso mais gostoso
Quando motivos não havia
Quando notei apenas ria
Sobre o rio calmo
Que co-ria.

quarta-feira, março 29, 2006

Pérola!!!

Já estava pronta pra ir dormir, quando derrepente minha vó soltou uma pérola, tive que vir postar aqui:
"Eu hein, bicho da Bahia é bode. E o vaqueiro é um gipe"
Alguém me ajude a interpretar

Transformação

Eu sei que cada dia
Qualquer coisa pode morrer
Qualquer coisa de belo pode nascer,
Eu posso apagar,
Jogar lembranças no poço do esquecimento
E escrever uma página nova na história
Eu sei que um dia,
Todo presente será memória.
Cada dia tudo morre
Pra algo possa nascer
Uma lágrima de tristeza cai
E um sorriso se abre no olhar
Eu posso cantar a melancolia
Que sutilmente nasce a alegria
Morre o homem velho
Morrem os desejos sem nexo
Nasce um novo coração
Morre a esperança
Nasce uma nova forma de acreditar
Cada dia,
Morre um pouco de mim,
Nasce tanto de mim em mim tantas horas
Morre-se e nasce-se um pouco a cada dia
Eu sei,
Toda morte é provisória
O nascimento sempre vem
É transformação
Eu sei que nada apenas morre
Eu sei que nenhuma morte é em vão.

terça-feira, março 28, 2006

Impressão Digital


Estava observando o pescoço do moço de camisa listrada. Os pelos cresciam num movimento tal, que pareciam tomar forma de uma impressão digital. Derrepente, vi na minha face estampada a figura que acompanha a minha fotografia no RG. E fiz uma expressão de pavor por causa de um pensamento que me tomou: Seria eu imutável? Estaria eu mesma desenhada em cada parte de mim? Já me vi por horas fragmentada, cada parte de mim sendo um eu diferente que sou. Ja neguei a mim mesma. Ja menti sobre o meu ser, coisas que a minha digital não faz. Aquelas formas dançavam no pescoço do moço, possuindo cada parte exposta do seu corpo, e eu me desesperava por pensar que naquela mesma dança eu poderia começar a tomar forma de mim. Escondo-me, não toco em nada! Enquanto eu não descobrir, não poderei revelar esse eu que penso que sou.

segunda-feira, março 27, 2006

Olhos Verdes

A presença da minha vó aki em casa, tem me levado a experimentar a magia e a estranheza da velhice. Aí lembrei de algo que escrevi uma vez que minha mãe me pediu para pintar os seus olhos...

Olhos Verdes

Vi as marcas do tempo nos olhos da minha mãe
Vi a ausência de juventude
E senti medo do tempo passar
Mas havia vida,
Havia vida naqueles olhos mudos
E uma enorme história
O semblante toma forma da memória
Em cada traço da feição.
Senti medo das minhas mãos derrepente envelhecerem
E do encanto da mocidade se esvair
Senti medo das formas flácidas do tempo
Quando olhei aqueles olhos verdes a luzir.

domingo, março 26, 2006

SOMA


Estou postando uns textos antigos, esse aí deve ter sido escrito em 2004, mas eu ando mais ou menos assim, tentando me encaixar em alguns limites estreitos...

Soma

Algumas doses de soma pra esquecer
O efeito produzido pela repressão dos meus impulsos
Que não têm outra saída a não ser transbordar
E a inundação é sentimento,
A inundação é paixão
A inundação é loucura até.

A consciência embriagada de significação
No intervalo de tempo entre o desejo e sua satisfação
Sufocada pela falta de ar
Pela falta de espaço
Da prisão esterilizada
Que a realidade criou.

É lá,
Nos seus limites estreitos
Que vagam meus pensamentos
Numa eternidade lunar
Tentando produzir a cegueira e a surdez
Deliberadamente procuradas
Na obscuridade quente e abafada da insatisfação.

Eureca!!!!!


Hoje tive uma idéia sensacional! Vou pendurar um peso na extremidade do meu sono para aumentar a força de campo gravitacional atuante sobre ele (tá foda, eu acordo por qualquer alfinete que cai no chão). Aproveitando este momento de gambiarras, vou providenciar uma lambida felina na minha memória pra que a aspereza da lingua arranhe a leveza e a maciez de algumas das minhas lembranças (lembranças boas que não se podem lembrar). Pronto! descobri a soluções do meus problemas. Um gato, uma pedra e um barbante...

sexta-feira, março 24, 2006

Drumond

Hoje fiquei com vontade de postar um texto de Drumond...

Comunhão

Todos os meus mortos estavm de pé, em circulo, eu no centro.
Nenhum tinha rosto. Eram reconhecíveis pela expressão corporal e pelo que diziam no silencio de suas roupas além da moda e de tecidos, roupas não anunciada e nem vendidas.
Nenhum tinha rosto. O que diziam escusava resposta, ficava parado, suspenso no sabão, objeto denso, tranquilo.
Notei um lugar vazio na roda.
Lentamente fui ocupá-lo.
Surgiram todos os rostos iluminados...

quinta-feira, março 23, 2006

A morte do ego



Ontem atirei no meu peito. Atirei-me num leito desconhecido, só pra sentir a estranheza da morte. Ouvi o estouro da bala e um silêncio profundo reinou. Eu sei que eu não estava mais lá. Senti meu peito desacelerar lentamente até parar de bater. Senti também o meu olho sangrar. Era frio. Meus dedos contraíram-se num gesto de dor. Eu não sabia o que fazer: viver, morrer, morrer, viver...Queria arrancar aquela bala do meu corpo e respirar o alívio. Vi todo meu sangue escapar de mim como um rio que transborda em dias de chuva. Eu vi toda a minha vida passar como um sopro. A minha história contraiu-se em um segundo. E aquele segundo parecia não passar. Depois de me dar conta do meu estado de inconsciência, senti uma imensa vontade de gritar. Mas ninguém estava lá. Só eu e o meu corpo ferido. Estendido ao chão, sem força, sem voz...Alguém precisava ouvir o que minha cabeça pensava e o meu corpo sofria. Pensei que ninguém jamais saberia. Mas aqui estou eu, a relatar o que me aconteceu. Só não sei o final da história. Não sei se o meu corpo morreu. Não sei se o meu eu viveu.

quarta-feira, março 22, 2006

Surdez...

Em função da perda auditiva da minha vovozinha, tenho sido ultimamente os seus ouvidos, além das suas muletas, é claro. Fico pensando nas diversas possibilidades que existem da gente se desconectar do mundo, e não ouvir me parece bastante intrigante. A gente fica impossibilitado de reagir aos ruídos das transformações que acontecem lá fora. Derrepente o mundo começa a desmoronar e a gente se quer se daria conta, não fosse a poeira das coisas desabadas. Algumas vezes desejei o sossego dos surdos, ou algum dipositivo qualquer que me tornasse alheia aos meus ruidos internos. Aqueles provocados pelas confusões, pelas transformações, pelos medos, pelos desejos....Ah, os desejos....tenho medo do que NIETSCHE tem me dito a respeito dos desejos....Mas vou me concentrar apenas nos meus desejos momentaneos de alienação auditiva. Pouco a pouco, ela (minha vó) está aprendendo a técnica da leitura labial, mas às vezes, por mais que ela tente fingir um entendimento, é nítido que a mensagem não foi compreendida, pois as respostas se resumem a um aceno de cabeça indicando um sim. Compreensivel, pois sim é uma resposta que se encaixa em quase todas as questões. As vezes, muitas vezes, a gente diz sim por estar sem saco de tentar entender bem o que está sendo questionado. Eu tenho dito muitos sins!! E não me perguntem porque, pois me parece bastante cansativo procurar entender. Semana passada, nostalgicamente, arrisquei uns sons de flauta, para sobrepor às ondas sonoras dos meus - peço licença para o neologimo- "insilenciosos pensamentos". Se essa surdez deliberadamente procurada der sinal de vida, vou imitar vovó, e sem pensar muito, com a cabeça direi "SIM"

domingo, fevereiro 05, 2006

Leve...


Folha de papel desliza leve ao vento. Pluma flutua em um lugar distante. Sonhos pairam no ar. Flutua o pó da coberta que sacudi pela manhã. A poeira que tirei do livro que há tempos precisava finalizar. Até eu não mais sinto o chão. Ondulo em meus pensamentos, deixandó-os ir e vir, sem nada filtrar...Estou me sentindo outra vez!!!! Como outrora, sem forma. Nuvem ao vento vagando, vagando, vagando...Tomando os contornos do ar, sem ar

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Sessão Nostalgia


Estava tentando me reencontrar numa daquelas fotografias empoeiradas, para tentar descobrir o quanto o meu semblante mudou. Fiz um passeio pela minha infância, fui visitar a minha adolescência. Fiquei tentando lembrar da minha rotina, da minha forma de pensar...saber o quanto mudou. Mas era só uma fotografia, e dela o pensamento consegue escapar. Olhei fundo nos meus olhos, que nada puderam dizer além do que eu consigo lembrar. Talvez os meus paradigmas distantes estivessem registrados em alguns versos, mas não arrisquei penetrar no universo paradoxal das palavras. Nessa minha louca procura encontrei amigos que há algum tempo não via. Percebi em mim marcas que não existiam. Ri um pouco das minhas roupas, senti saudades de algumas até. Encontrei escondidos nas gavetas alguns discos que há algum tempo não ouvia, também do meu passado fotografias. Aquelas canções me levaram pra longe. Assistindo os clipes que eu mesmo produzi, com as histórias mais normais que eu já vivi. Depois de sentir o meu antigo eu emoldurado, corri para o espelho procurando comparações. É como se a menina da fotografia estivesse agora tentando entender a mulher do espelho e tentando nela se encontrar. Pra ter certeza de que, apesar das mudanças, era a imagem dela que estava lá.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006



Penso,
Logo existo
Existo?
Desisto, não insisto
Paro de pensar .
Nada mais sou
Inexisto!
Me revisto do não-pensar
Até não mais sentir
A minha existencia
Num pensamento vão...

terça-feira, janeiro 31, 2006

Testando

A vida nada mais é que um teste do que queremos para a nossa morte... assim continuo aqui testanto (com a testa mesmo). Ai vai: TESTE!