domingo, outubro 29, 2006

A livre prisão de um sonho

Essa noite tive um sonho,
Sonhei que eu era um sonho sonhado por alguém
Tive medo de abrir os olhos
E descobrir que tudo não era sonho apenas,
Tive medo de quem me sonhava
De repente acordar
E eu desaparecer.

Estou sonhando dentro do sonho de alguém,
Um alguém que também é só sonho
Outro sonho sonhado numa estação de trem

Talvez eu esteja tão acordada
Que não perceba o sonho que sonharam de mim
Começo a ficar desconfiada
Que tudo que vejo foi eu que criei
No meu subsonho...
Mundo que eu mesmo inventei.

Vidas são universos infinitos
Sonhando juntos sonhos distintos...

Agora, de olhos abertos, tento entender o meu devaneio.
A minha existência é um sonho
Dentro do sonho de quem desconheço

Mas onde será o começo do fim?
Quem irá despertar primeiro?
Eu, que sonho a minha vida,
Ou aquele que, sonhando, trouxe vida pra mim?

Acordar será encontrar o caos
E no caos descobrir
O poder de despertar o sono de quem me sonhou

Serei sonho do meu sonho apenas
Serei sonho do cosmo e só!
Fusão suprema de cada universo sonhador
Aquele que nos adormece
Com o qual encontramos ao despertar
De onde partimos,
Pra onde retornamos
Vivendo a história que nos for dada a sonhar

Agora já não sei o sonho que me acorrenta
Já não sei se pretendo me libertar.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Hoje, flores lilás espalhadas pelo chão me fizeram lembrar que é primavera e me arrancaram sorrisos logo pela manhã. Estou primavera! E coincidentemente visto lilás. Me agrada esta sincronia natural.

Felicidade é reconhecer beleza nas coisas mais simples da vida...

terça-feira, outubro 24, 2006

Braimstorm de Paixões

Montanha. Pôr-do-sol. Flor. Banho de mar. Cachoeira. Nuvem. Estrela. Andar descalça. Sabores. Texturas. Lilás. O novo. O belo. O imprevisível. O não entender. Poesia. Canções. Livros. Sorvete com batata frita. Brisa. Amigos. Violão. Verde. Devaneios. Sonhos lúcidos. Leveza. Profundidade. Tomate. Cheiro de chuva. Chuva chovendo em outro lugar. Viajar, viajar, viajar!! Derramar-se em palavras. Cinza. Mudanças. Orégano. Sorrisos. Brincos. Confusões que transformam. Ação. Cochilo de tarde. Rede. Caminhar sem destino. Saias. Sons de flauta. O simples. Céu estrelado. Céu nublado. Céu negro. Céu azul. Estar em sintonia. Sentir, sentir, sentir!! Viver. Deixar fluir. Apaixonar-se. Desacostumar-se. Lembrar-se. Escquecer. Matar saudades. Camping. Malabares. Rítimos. Movimento. Água. Ciclos. Equilíbrio. Caos. Vale do Capão. Olhar expressivo. Evolução. Aprendizado. Coco gelado. Suco de Tiga. Abraço apertado. Acarajé. Girar. Silêncio. Pinturas. Maçãs. Experimentalismo. Filtro do sonho. Números. Vida. Desapego. Árvores. Canto de pássaros. Fotografias. Borboletas. Diálogo. Sementes. Pessoas. Descobertas. Transformação...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Estranha Nitidez

Vejo a amplidão da minha existência
Isso me apavora!
Pálida luz nos olhos da criança
Que, alheia, na calçada descansa
Horas caminha descalça, sorri.
Por um instante meus olhos abriram-se para o mundo
Estranha nitidez!
Não,
Não me atormentem com a vida que acontece
Nas tardes de abril
Tirem-me daqui
Devolvam-me o tempo em que as horas passavam
E os grãos da ampulheta caindo não me importunavam os ouvidos
Excessivamente grave é a minha lucidez!
Já não pretendo o absolutismo das coisas
Basta-me um sorriso mudo num semblante cheio de dor.
Uma brisa gostosa acaricia meu rosto
Mas intensos demais são os raios que me ultrapassam a retina
Aperto bem forte com as mãos os meus olhos
Procuro o alívio dos cegos
Estranha, muito estranha nitidez.
Bato portas,
Fecho janelas
Amarro-me à cadeira da sala com a linha do equador
Não quero ver-te,
Sentir-te
Prefiro a ignorância dos tolos
Atormente-me esta tão estranha nitidez.

terça-feira, outubro 17, 2006

Atravessou a rua distraída, olhou para os lados de forma automática, sem prestar muita atenção. Viu na calçada um mendigo deitado, mas nada que não fosse normal. Repentinamente o olhar de Frederico cruzou-se com o seu. Reconnheceu ali um brilho familiar e teve a impressão de que, algumas sensações, os anos pouco conseguiram apagar . Os carros que passavam interrompiam o momento infinito do reencontro. Incrível como preservava o mesmo jeito de pegar nos cabelos e a maneira iluminada de sorrir. No instante eterno em que os olhares se cruzaram disseram em silêncio todas as palavras que ficaram por ser ditas. E não menos estranha foi a sua maneira costumeira de partir...

segunda-feira, outubro 16, 2006

segunda-feira, outubro 09, 2006

Zé [Vanessa da Mata]

Você dita ao meu coração
O que ele não quer aprender, Zé
Você quer que o meu coração
Siga a tua receita só
Não, quero que aceite
O jeito que eu te dou de mulher
Não, e aproveite
O resto o tempo dá jeito

Mesmo que tenha a minha oração
Que você dispensa Zé
Você faz com que o meu coração
Siga a tua beleza só
Vá lembrar a tardinha
Quando nos conhecemos Zé
Havia uma beleza ali
Ou era criatividade minha

Quando andava pela rua
Cor de sol amarelo ouro
Me fitava e eu me avermelhando
Som de jardim de sonho
Zé era seis da tarde
Dia e escuridão
Tinha tom, sino e alarme
Roubando o meu coração

Hortelã, alecrim e jasmim
Ave Maria cantando
Ela tão satisfeita por mim
E eu num galho do sol
Que nem passarinho
Que nem passarinho
Desvanecida de amor
Cor de carmim

domingo, outubro 08, 2006

O que tu és teu

E daí?
Além do teu nome, o que mais é teu?
As roupas que guardas no armário,
O medo que escondes bem fundo,
O amigo que tu conquistastes?
É tua a tua história,
Ou és só parte da história de alguém?
Existirá alguém que possua?
Consolo...

O abraço que tu destes?
As palavras que saíram da tua boca,
A idéia que julgastes louca,
É tudo teu também?

O caminho que tu escolhestes,
Foste tu mesmo que escolheu?
Tu abriste a porta, ou o mundo abriu-se diante de ti?
Entrastes!

É tua a tua conquista?
Teu desejo?
Teu sonho, será que é teu?
Teu destino, tua sorte...
E ao tempo, o que pertence?
O acaso o que te deu?

O teu passado, de quem será?
Viveste.
Carregas contigo a memória
Levas em teus braços os anseios
Da vida que pensastes ser tua

És fragmento e totalidade
A ti nada pertence,
Pertences!
Tu já és o que queres possuir
Teu é apenas teu mundo
Criastes!
Escolheu morrer num sábado pela manhã. Porque sábado de manhã é sempre um dia feliz. As crianças comemoram a folga da escola, a comida é mais saborosa, a praia fica mais alegre e o dia é mais colorido até. Na noite de sexta feira tomou um banho dos mais demorados, disse qualquer coisa nos ouvidos do seu amor, arrumou os cabelos com uma delicadeza irreconhecível, vomitou algumas metáforas e deitou-se para esperar a próxima manhã. Ainda não amanheceu, de modo que não posso contar-lhes até que ponto ela sobreviveu...

sexta-feira, outubro 06, 2006

Bondes

De mim ficou um pouco no bonde
Um pouco de tudo em meus olhos,
Um pouco de tudo em meu tato
De mim, cada parte,
Retrato.

De tudo ficou um pouco bem longe
Um pouco de tudo algures
Um pouco de tudo na história
Do sonho, cada parte,
Memória

Guarda pra ti o retrato
Nele há vida pulsante
Conserva pra sempre a memória
Leva-a contigo em todo bonde,
Pra longe...

Do bonde, em mim, a saudade
Imagem que o tempo adormece
Poeira alguma a alcança
Do bonde, o ruído,
Lembrança.

De tudo, cada parte, nos trilhos
Nas nuvens de calor e fumaça
Na bagagem de quem segue em frente
De mim, do bonde,
Semente.

quinta-feira, outubro 05, 2006

O que me roubou a atenção foi um fio de cabelo suspenso no ar, equilibrado pela minha respiração. Estava quase curvando-se para tomar a forma do arco-íris que vi no caminho pela manhã. Na hora do desjejum vi a fala do meu avô nos lábios do meu pai. Ele me disse que se eu conseguisse chegar no pé do arco-íris encontraria um pote de ouro lá. Queria ter escutado isso na época em que se podia acreditar, mas sorri. O caminho para aula tem sido uma diversão. Me distraio com os carros ao redor, observo as árvores que as vezes passam despercebidas, vejo o movimento das pessoas...Hoje foi embalado por Baden Power "Quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém" e senti derrepente um gosto saudoso de acarajé...

Ainda sem título

Folhas amarelas da primavera cobriam o chão daquela manhã de sol tímido. Sentou-se, tirou do bolso um cigarro amassado, fitou-o e decidiu não fumar. Andava meio satisfeito com as suas confusões e temia que, acidentalmente, acabasse por resolvê-las - Cigarro é um poderoso ato de reflexão! Pelas cores do céu podia-se prever que não haveria pôr-do-sol, embora fossem tantas as horas até o entardecer. Pôs-se então a pensar para não pensar. Coloriu de amarelo alaranjado, com pitadas de azul, os seus pensamentos nublados. Novamente, num ato instintivo, puxou do bolso o cigarro amassado, e não menos instintivo foi seu ato de rejeição. Estava infinitamente feliz com as confusões que abrigava. Sentia-se satisfeito por tê-las conseguido criar. Cada uma delas, de maneira peculiar e não muito aguda, desordenava-o, fazendo-o experimentar a sensação desconhecida de emaranhar-se dentro de si. Apertava cada vez mais forte o cigarro, que não voltara a guardar no bolso. Aquele mesmo cigarro amassado que tentava roubar-lhe o encanto da confusão. Deitou-se no tapete amarelo produzido pela folhagem, deixou os braços abertos num ângulo inconfundível de prazer, e olhando para o céu cinza escuro, sentiu-se transbordar confuso de si, num segundo quase infinito. Sequer notou o cigarro amassado cair da mão...


PS.: Aceito sugestões para o título!