segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Silêncio Infinito

Eu me liberto através das palavras,
Mas elas me prendem!
Hoje saí para pensar no infinito,
Mas as palavras me acorrentaram
E eu não pude escrever o que senti.

Quando a nuvem afiada
Cortou o sol em dois
Eu desejei arrancar a calota de fogo
E mergulhar bem fundo lá
Pra sentir o calor infernal da grande estrela
E depois me refrescar no mar
Quando a tarde caísse por inteiro.

Infinitas são as formas de falar sobre infinito
Posso chamá-lo de amor,
Posso chamá-lo de céu,
E até, quem sabe, de deus...

Infinito pode ser o meu pensamento
Infinito pode ser o que ainda não sei

Há nuvens douradas num céu quase azul
Barulho de águas
Ruídos de vida ao redor

Infinito é o meu sentimento
É essa estranheza de não saber o que sentir

Minhas palavras não dizem nada,
Ainda não alcançaram um traduzir
Eu sonho com o silêncio infinito
Mas das palavras não consigo fugir.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Ela trancou-se no quarto e deu-se a chorar. Pensei em abrir a porta para ver o que se passava, mas depois lembrei do quanto é importante chorar sem ninguém. Já chorei por vezes sozinha, não sei se por opção ou falta de alguém para compartilhar, mas o fato é que me acostumei a chorar só. Aliás, este é um momento só nosso, e é preciso realmente para isto estar só. Mas as paredes têm ouvidos e eu percebi que aquele era o seu momento de esvaziar. Fico feliz quando as pessoas choram. Não entendam isso por sadismo ou qualquer coisa assim. Mas é que chorar soa como admitir que está na hora de transbordar. Evita um câncer até. Sabe aquela história "meninos não choram" (nem uma alusão ao filme, que por sinal nem assisti), isso faz tão mal...
Algumas pessoas têm vergonha de chorar. Falo isso porque ja senti. Mas hoje estou certa de que cada lágrima é a leveza que eu preciso alcançar. Choro de dor sim, por que as vezes sinto doer. Choro de rir. Esta semana chorei com a história brutal do garoto que foi arrastado por 7 Km nas ruas do Rio de Janeiro até morrer. Choro de saudade e de culpa. Já me ouvi chorar em lá menor. Lembro dos períodos longos de choro. O meu gato vira lata que morreu. A partida para Porto Alegre. O fantasma que aflorou cores e as cobriu de cinza. Do conflito entre a engenharia e a psicologia. Do sumiço de xuxu. Engraçado que falar em choro sempre nos remnete à dor. Não sei exatamente se neste momento ela chora de dor. Ontem queimei meu dedo no vapor, tamanha era a dor, que pensei que não ia passar, mas passa, sempre costuma passar... E é por isso que em meu rosto uma lágrima sempre está acompanhada de um sorriso sutil, por que é reconhecido o ato de esvaziar. Acho que, trancada no quarto, ela ainda chora, enquanto eu aqui me derramo em palavras. Queria poder ajuda-la, mas talvez eu realmente deva deixá-la transbordar...

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Carlos Drumond de Andrade

A hora do descanso

As coisas que amamos,
As pessoas que amamos
São eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
No limite de nosso poder de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
Dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam absoluta,
Numa outra maior realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
Por um outro itinerário,
De aspirar a resina do eterno.

Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
Rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre na boca
Na mente,
Sei lá, talvez no ar. ..