sexta-feira, maio 29, 2015

11-02-15 - Justiça Eficiente??

Chegamos na delegacia por volta das 9:00. Eu estava assustada, não queria encontrar o ladrão que se encontrava em uma das celas, e nenhum pessoa relacionada a ele. Mas foi inevitável! Enquanto estávamos sentados na sala de espera, ele passou por nós, vestido um srwong azul, descalço e algemado com as mãos para trás. Lembra da linha do tempo de Einstein?O que aconteceu agora foi exatamente o contrário, o lapso de tempo retirado foi exatamente o que ficou. Era o olhar dele. Uma mistura de ódio e pedido de compaixão. Eu não queria que ele me visse, mas inevitavelmente o nosso olhar se cruzou e a expressão dos olhos dele se materializou.

Uma muçulmana, acompanhada de duas crianças entrou chorando na delegacia. Era a esposa e filhos. Trocaram algumas palavras em meio a choros, até o policial convidá-la a se retirar dali.

Entramos na sala do delegado e ele solicitou que escrevêssemos a próprio punho a nossa queixa.

-Eu não quero registrar esta queixa. Não quero ser responsável por enviar para a cadeia um pescador miserável, pai de família para a cadeia. - Desabafou Udhayan
-Não é você que vai enviá-lo para a cadeia, é a polícia, através do cumprimento da lei - Pontuei.
-Sim, mas se eu fizer este registro, ele não terá escapatória
-Se você não fizer esse registro a polícia não terá como fazer o trabalho dela.
-Este caso não é mais um problema meu. O cara arrombou 2 quartos numa pousada, o meu telefone apenas ajudou a polícia a localizá-lo. Agora é um problema da policia e dos donos da pousada. Eu quero apenas meu telefone de volta e poder curtir nossa lua de mel em paz.
-Quando ele entrou naqueles quartos ele sabia o que estava fazendo e quais seriam as consequências disso. Não é VOCÊ que vai enviá-lo para a cadeia, foi uma escolha dele. - Meu coração estava endurecido.

Uma das coisas que aprendi no meu país é que a impunidade fomenta o crime. A morosidade da justiça desestimula o exercício da cidadania inibindo a realização de denuncias contra crimes e abusos e isso também fomenta o crime. A banalização de alguns crimes também fomenta o crime. Para mim não havia por que não registrar aquela queixa e deixar a polícia fazer a parte dela.

O delegado informou que, registrando-se a queixa, o tratamento seria acelerado, por envolver 2 estrangeiros, e garantiu que teríamos nossos celulares de volta no dia seguinte. Caso a queixa não fosse registrada, apenas o crime de arrombamento seria investigado, o que poderia durar meses e ter os aparelhos de volta seria um sonho distante. Isso não o convenceu. Ele ligou para o primo Punny e conversou com ele e sua esposa Joddy, especialista em criminalística e ambos concordaram em não registrar a queixa, mas sugeriram que ligássemos para um tio dele, o qual compartilhava da mesma opinião. Ele já estava convencido disso, mas ainda passou alguns minutos conversando com a tia, a qual também passou alguns minutos conversando com o delegado.

Alguém de patente superior chegou a delegacia e nos chamou para uma outra sala, e sem esperar qualquer palavra do tal chefão, Udhayan deixou claro:

-Eu não tenho o menos interesse em registrar queixa.
-Como não? Você teve seus bens roubados, nós capturamos o ladrão e só podemos seguir com os procedimentos depois que você registrar a sua queixa.
-Eu entendo. Mas eu não quero ser responsável por mandar pra cadeia um pobre coitado que roubou um celular que não tem nenhum valor para mim.

Ele se compadecia da família e acreditava que não havia "maldade" no crime cometido, que tudo foi motivado por uma necessidade financeira e se sentia péssimo, levando para si a possibilidade de "arruinar" uma vida. Mesmo discordando do seu ponto de vista, eu decidi apoiá-lo:

-Senhor - tentei intervir - Independente do roubo dos celulares, ele cometeu o crime de arrombamento. O celular foi apenas o meio usado para possibilitar a sua identificação. Mesmo que não prestemos a queixa, se os responsáveis da pousada o fizerem, vocês podem prosseguir com as investigações.
-Me desculpa senhora, de onde você é?
-Brasil
-Pois bem, a lei aqui é diferente da do seu país. Existe o crime de arrombamento. O crime de roubo e o crime de arrombamento seguido de roubo (acho que aqui é igual). Mesmo se os responsáveis da pousada prestarem queixa, sem o registro de vocês, vitimas do crime de roubo, o processo toma um rumo diferente do que o que de fato aconteceu. E se vocês estão no Sri Lanka, precisam cooperar com a justiça do país.
-Ok - Interrompeu Udhayan, E se eu disser que dei meu celular pro Ragga (representante da pousada), ele não me pertence e a vitima de ambos os crimes será ele.
-Mas o telefone está no seu nome, e não no de Ragga - Disse o chefão.
-Mas eu o dei de presente.
-E o que o celular estava fazendo do SEU quarto no momento do crime? Isso não faz o menor sentido.

A sugestão de Udhayan realmente não fazia o menor sentido. E eu sinceramente não entendia tanta resistência em registrar uma queixa. Independente de fazermos o registro, já estávamos envolvidos co aquela situação. Que tirava o nosso sossego, a nossa alegria, a leveza de umas ferias, a beleza de uma lua de mel. Nós colaboramos com a polícia, através da tecnologia GPS para chegara té o ladrão. Isso já nos tornávamos envolvidos com a sentença do ladrão.

O tio Ranja, politico influente no país ligou e pediu para falar com o chefão (OIC - Officer In Charge), que já estava impaciente. eles conversaram um pouco e ele se levantou:

-Pra mim já deu!!!! Eu tenho uma reunião importante agora e terei ue dirigir mais de 100 km. O meu pessoal já está instruído sobre o que fazer. - Deixou a sala.

Voltamos para a sala do delegado, onde do outro lado da janela 3 homens conversavam e nos observavam. Depois de novos telefonema com os tios, que a esta altura já haviam conversado com advogados, pessoas da área e outras pessoas influentes, até que veio o argumento que derrubou toda a armadura de Udhayan.

-Se não registrarmos a queixa, a policia pode ter problemas pois não tinha o direito de ir até a casa do acusado, sem um mandato. A lei dos direitos humanos pode simplesmente detonar com os policiais.
-Mas o que o seu coração diz? - Perguntei.
-Vamos registrar a queixa, mas você redige

Pronto, sobrou pra mim!!! Será que isso reduziria o seu remorso? O fato de eu redigir não significava que a queixa também não estava sendo prestada por ele.  Eu já tinha uma certa experiencia com isso. Havia redigido uma queixa ha pouco mais de 72 horas. Não escrevi nada além do que, de fato, acontecera. Nomes, números de passaporte, cidadania, nome do hotel, numero do quarto, horário de saída para o jantar, horário de retorno, coisas reviradas no quarto, 2 celulares, com respectivas especificações, roubados. Assinei e datei. Esta é a terceira vez que assino meu nome oficialmente neste país.

Honestamente, saí sem remorso. Enquanto esperávamos a condução que nos levaria de volta para a pousada descobrimos que aqueles caras que esperavam do lado de fora da janela eram familiares do ladrão. Sogro, irmão e cunhado. Evidentemente, quem vê cara não vê coração, mas sabe aquelas pessoas para as quais se olha e so se consegue ver o bem? Aquela cara de gente do interior....Nesse momento toda a minha frieza desabou e os meus olhos se encheram de lágrimas. Pedi que nosso tradutor pedisse desculpas a eles, mas eles já estavam se antecipando e pedindo desculpas antecipadamente. Disseram que estavam completamente envergonhados e desapontados. Era a reputação de uma família inteira que estava indo por água a baixo. A tristeza e calma no olhar deles não negava isso....

...Enquanto escrevia este relato sobre o que ocorreu pela manhã, Udhayan tirava um cochilo e alguém bateu na porta. Era Kunna (o funcionário da pousada), nos chamando para ir ao tribunal recuperar os nosso celulares. Na porta do hospital, os mesmos familiares que encontráramos na porta da delegacia pela manhã.  Fomos convidados para ir até o primeiro andar, onde pensei que iríamos apenas apanhar nossos celulares, mas era literalmente um tribunal. com alguns engravatados, muitos policiais, o acusado algemado, sentado nos bancos de trás, com alguns familiares do lado. Aquela atmosfera desencadeou em mim uma estranha sensação de nervosismo. Pena, confusão, senso de justiça ou injustiça. Em que lugar do planeta uma pessoa comete um roubo às 21:00, é capturada à 1:00, uma queixa é prestada às 10:00 e o julgamento ocorre às 16:00?? Seria isso eficiência na justiça ou apenas trafico de influencia?  Teria ele tido acesso a um advogado? Não entendo nada de direito, mas imagino que este seja um direito igual em qualquer do mundo.

Notando o meu nervosismo, misturado com um choro contido,um dos engravatados falou:
-Fique tranquila, o caso esta quase encerrado e o acusado será condenado.

Como assim ficar tranquila?? Esse era exatamente o motivo da minha aflição!

-Como você sabe que ele é o culpado?
-Há evidencias contra ele. OS itens roubados foram encontrados com o acusado.
-Mas ele pode ser apenas o receptor. E se alguém cometeu o roubo e entregou os itens roubados na casa dele?
-Ele entregou os celulares roubados à policia, quando ela estava na casa dele, não há duvidas.
-Ele tem um advogado para defendê-lo?
-Sim, ele tem um advogado de defesa.

Provavelmente foi disponibilizado um defensor público que, pela velocidade do caso, não teve nem tempo de conversar com o seu cliente.

-Cara, eu estou de férias, em  lua de mel. Esse é o segundo incidente que acontece conosco em dois dias. Eu fui chamado para apanhar nossos itens roubados de volta, não para sentar em um tribunal e participar de um julgamento. Não quero fazer parte disso! - Disse Udhayan.

Descemos as escadas e fomos sentar na portaria do tribunal. Os policiais estavam nitidamente irritados com o nosso "drama"

-Veja bem, você não está no seu país, e aqui você tem que agir como determina a lei deste país. Você registrou uma queixa sobe seus itens roubados. Os itens foram encontrados, o ladrão foi localizado. Estamos encerrando o caso e vocês serão obrigados a estar presentes. - Falou um dos policiais.

Impacientes, nervosos, tensos e amedrontados, subimos pelo outro lado para irmos até a sala do juiz, de onde estava saindo, algemado, o acusado. Quase nos batemos de frente, e eu ja tinha medo do significado do novo olhar que me seria lançado. Baixei a cabeça e me virei para a parede. Eu ainda tinha um vulto de nervoso e panico ao entrar na sala do juiz, onde estavam muitos outros engravatados.

-Por que você está tão nervosa? - Perguntou o juiz

Eu nada respondi

-O que aconteceu com o seu olho? - perguntou dirigindo o olhar para Udhayan.
-Isso foi outro caso, o qual já relatamos à polícia em Trincomalle - Me antecipei.

Naquele momento eu não acreditava que houvesse qualquer relação entre os dois crimes e queria agilizar o processo, além de não querer recordar aqueles segundos eternos de pavor em Trincomalle.

-E o que aconteceu aqui?
-Por volta da 20:00 saímos do nosso quarto na beach hut para jantarmos no restaurante do hotel. Ao retornarmos, por volta das 21:30, percebemos todos os nossos pertences revirados e espalhados pelo chão do quarto e tivemos os nossos celulares roubados. - Resumi.
-E como você sabe que os celulares tinham sido roubados? (Adorei essa pergunta!)
-Por que eles estavam no quarto quando saímos para jantar e ao retornarmos eles não estavam mais.
-Como os ladrões entraram no quarto?

Udhayan respondeu:

-Destelharam o quarto e entraram pelo telhado.
-E como vocês localizaram os celulares?
-Através do GPS.
-
Ele fez cara de espanto, como se estivesse sendo apresentado à esta tecnologia naquele momento.

-GPS???

Os engravatados se atropelaram ao tentar explicar, maravilhados, todos de uma vez, como funcionava a tecnologia que ajudou a localizar os celulares. Seria cômico se não fosse trágico! Incrível o atraso tecnológico das forças de segurança....era como se eles estivessem assistindo Jaspion!

Ao final daquele conversero todo, o juiz virou-se para Kunna, o representante da pousada, para dar-lhe um carão.

-Como você explica isso? Você não garante a segurança dos seus hospedes? Você é responsável por mantê-los seguros e tranquilos, blá, blá, blá....

Kunna respondeu algo que não consegui entender e o juiz completou, virando-se para nós:

-Fiquem tranquilos, o caso já está encerrado, o acusado confessou os dois crime - arrombamento e roubo - e será preso, conforme determina a lei deste país.  Não precisarm ficar assustados, o Sri Lanka é um país seguro e a polícia trabalha duro para garantir a segurança e tranquilidade dos nossos turistas.

OI??? O cara rouba as 21:00, é capturada à 1:00, uma queixa é prestada às 10:00 e até as 17h ele já está julgado e condenado? Seria isso eficiência da justiça ou um trafico de influencia?

Deixamos a sala e fomos no andar de baixo retirar os nossos itens roubados. Na sala, centenas de ítens apreendidos, no mínimo inusitados. Enxadas, facas, facões, panelas... É claro que a curiosidade não segurou a nossa língua e perguntamos do que se tratavam aqueles ítens. Furto e contrabando!

Saímos de lá com uma péssima sensação e estranhamente sentimos pelo destino daquele ladrão, mas decidimos colocar um ponto final nos fatos e curtir os ultimos dias das nossas férias. Mas mais uma vez naquela noite houve queda de energia. PANICO!!!! Mas foi apenas um espasmo, minutos depois a energia voltou....Mais uma noite mal dorida, mais uma cena pra completar o nosso filme de uspense.








quarta-feira, maio 20, 2015

10-02-15 - Nada de descanso, Dr Sherlock

Retornamos do jantar por volta das 21:30. Por causa do ocorrido na madrugada do dia 09/02, criei o habito de olhar em baixo da cama para me certificar de que não existe ninguém escondido la. Uma especie de paranoia, eu sei! A cama ficava exatamente de frente pra porta no quarto 9 da beach hut. Ao constatar que nao havia ninguém por la, levantei o olhar estiquei os joelhos e haaaa????? Ao fitar meu olhar na altura da cama, percebi que toda as  minhas coisas estavam espalhadas em cima do colchão, roupas jogadas no chão, armário arrombado Meu Deus, estou num filme de terror!!!!!!

-Alguém entrou aqui no quarto
-Você tem certeza?
-Claro!! Eu não deixei as minhas coisas assim.

Os dois telefones celulares foram roubados. Os outros pertences de valor, estavam trancados no carro, com exceção da carteira e lap top de Udhayan, que, estranhamente nao foram roubados, apesar de estarem a vista.
Ele me segurou pelo braço, demos meia volta e fomos correndo em direção a recepção. Nesse momento, a sensação de nervoso e panico tomou conta de mim. Dessa vez, ao som dos meu gritos (estou ficando profissional na arte de gritar), as pessoas vieram imediatamente ao nosso encontro. Um grupo de dinamarquesas tentava me acalmar, enquanto os gritos de catarse permaneciam. Eu lembrava da cena das minhas coisas espalhadas pelo quarto, do intruso na nossa cama dias atras e tinha espasmos de arrepio por todo o corpo. Eram muitos gritos, e o motivo não era o que acabara de acontecer, mas a sensação de perseguição, medo, insegurança, conspiração. Naã posso esquecer do cãozinho vira-lata, que, sentindo o meu desespero, se aproximou e me lambeu, com um olhar consolador como se me dissesse: Vai ficar tudo bem!

Enquanto isso, Udhayan havia retornado para o quarto com o pessoal da pousada, e lá constataram que o delinquente removera as telhas e entrou pelo buraco que se fez no telhado. Não fomos as únicas vitimas, o quarto ao lado também foi invadido, mas lá, eles nao encontraram nada de valor. 
Nesta noite, Udhayan supostamente teria que ligar para irmã, mas quando esperávamos o nosso jantar ele constatou que havia esquecido o celular no quarto e cogitou a possibilidade de voltar pra buscar. Isso me lembrou a noite anterior, também quando esperávamos o jantar, eu voltei sozinha ao quarto para buscar o computador e uma nova explosão de arrepios percorreu meu corpo. Eu poderia simplesmente dar de cara com o ladrão ao voltar pro quarto.
A pousada consiste num conjunto de cabanas de madeira na beira da praia, com pouca luminosidade. A estrutura de recepção e  restaurante, fica no inicio da rua de forma descontinua. Nesta noite - ficamos sabendo depois - o vigia não tinha ido trabalhar pois tinha ido a um funeral.
Coincidência ou não, nesta noite também faltou energia, por volta das 19:00, enquanto olhávamos as mais de 600 fotos da nosa trip, exatamente quando chegamos na terceira ou quarta foto que tiramos em Trincomalle (onde ocorreu o incidente anterior). Uma sensação de medo imediatamente se instalou e decidimos parar de olhar as fotos, tomamos banho e fomos jantar; a partir daí, já e sabe o que aconteceu. 
Smart phones ainda não são tao populares por aqui, e alguém esqueceu de avisar aos ladroes sobre a tecnologia gps que estes aparelhos dispõem, e, negligenciando isto, eles mantiveram os celulares ligados, o que permitiu a dentificação da localização deles. Bingo!! Neste momento entendi que não foi por acaso que ele esqueceu o celular no quarto. A primeira localização identificava-o a cerca de 4 km da pousada. A policia desconhecia a tecnologia e tardou em ir atras dos delinquentes. Cerca de 20 minutos depois a localização indicava-o na quadra da frente. Pouco tempo depois o telefone foi desligado.  Nervoso com a possibilidade de perdermos de vez o sinal, insistimos pra que a policia tomasse logo uma atitude. Ao atualizarmos, percebemos que eles se moviam para mais perto da pousada, ate que finalmente eles foram pro local indicado. Udhayan com o lap top, dois funcionários da pousada e seis policiais, dividido em um carro e um tuck-tuck, enquanto eu fiquei na pousada, no "centro de operações", atualizando a localização com um celular disponível e outro funcionário do lado. O sinal do gps ficou indisponível por cerca de 40 minutos. Eles relataram que foram até la e a localização era exatamente no meio de uma rua, sem nenhuma casa ao redor (aí fica difícil). Eles ja estavam quase desisti do e voltando pra casa, quando, de repente, recuperei o sinal e e liguei para informar a nova localização, enviando em seguida um print screem da tela do google map para o email de um dos funcionários da pousada.
Segundo relato de Udhayan, , ao chegarem no local indicado, por volta das 23:00, um senhor atendeu a porta, a policia conversou alguma coisa com ele e os outros membros da família aos pouco começaram a se aproximar, até que, do outro lado da casa, um homem magricela, de cerca de 24 anos apareceu com ua postura defensiva informando que não havia nada de errado ali. Mostrando-se convictos de que os itens roubados se encontravam ali, a policia insistiu, enquanto ele continuava negando. Até que, não se sabe qual argumento foi usado, o mesmo rapaz da postura defensiva entrou em casa e trouxe um dos celulares, estampando na cara de todos os familiares uma expressão de surpresa e decepção. Os policiais questionaram sobre o segundo celular, e ele insistia em negar, até que desistiu e devolveu o segundo aparelho. Algemado, ele foi colocado na viatura e levado para a delegacia, nossos telefones confiscados, obrigando-nos a ir na delegacia no dia seguinte, para registrar queixa e recuperar os nossos bens.
Udhayan voltou arrasado para a pousada:
-É um cara novo, pescador, pai de dois filhos. Pode passar 2 a 6 anos na cadeia por causa desse pequeno roubo.
-Essa é uma discussão recorrente e sempre polêmica no Brasil, quando os autores desses "pequenos crimes" são colocados como "vitimas da sociedade". Não sei se meu coração endureceu, mas para mim, esta condição social não alivia a sua culpa. Este é um país pobre, imagine se todas as pessoas começassem a roubar, apoiados nesta justificativa?

Nós já estávamos alojados em outro quarto, e eu não preguei o olho durante toda noite, aliás, a confusão toda terminou por volta das 3 da manhã. Da experiencia anterior, ficou na memória o medo da escuridão e agora uma nova cena completava mais um capitulo dessa experiencia: As nossas coisas espalhadas pela cama e pelo chão do quarto, evidenciando que alguém estivera ali momentos atrás. Uma sensação de vulnerabilidade, teoria da conspiração, perseguição....

Estariam os dois eventos conectados? Mas eram dois crimes de características completamente diferentes. No primeiro evento nada nos foi roubado, e o criminoso mostrou uma postura de enfrentamento, entrando no quarto sabendo que havia um casal ali. No segundo caso, o ladrão esperou-nos sair para o jantar. estranhamente o lap top e a carteira com cerca de 20.000 rupias (~ R$ 400,00) não foi roubado. Estranho por que pequenas bolsas da minha mala foram revistadas e a carteira tão à vista não foi levada. A unica conexão entre os dois eventos foi a falta de energia, que antecedeu os dois crimes.