quarta-feira, maio 20, 2015

10-02-15 - Nada de descanso, Dr Sherlock

Retornamos do jantar por volta das 21:30. Por causa do ocorrido na madrugada do dia 09/02, criei o habito de olhar em baixo da cama para me certificar de que não existe ninguém escondido la. Uma especie de paranoia, eu sei! A cama ficava exatamente de frente pra porta no quarto 9 da beach hut. Ao constatar que nao havia ninguém por la, levantei o olhar estiquei os joelhos e haaaa????? Ao fitar meu olhar na altura da cama, percebi que toda as  minhas coisas estavam espalhadas em cima do colchão, roupas jogadas no chão, armário arrombado Meu Deus, estou num filme de terror!!!!!!

-Alguém entrou aqui no quarto
-Você tem certeza?
-Claro!! Eu não deixei as minhas coisas assim.

Os dois telefones celulares foram roubados. Os outros pertences de valor, estavam trancados no carro, com exceção da carteira e lap top de Udhayan, que, estranhamente nao foram roubados, apesar de estarem a vista.
Ele me segurou pelo braço, demos meia volta e fomos correndo em direção a recepção. Nesse momento, a sensação de nervoso e panico tomou conta de mim. Dessa vez, ao som dos meu gritos (estou ficando profissional na arte de gritar), as pessoas vieram imediatamente ao nosso encontro. Um grupo de dinamarquesas tentava me acalmar, enquanto os gritos de catarse permaneciam. Eu lembrava da cena das minhas coisas espalhadas pelo quarto, do intruso na nossa cama dias atras e tinha espasmos de arrepio por todo o corpo. Eram muitos gritos, e o motivo não era o que acabara de acontecer, mas a sensação de perseguição, medo, insegurança, conspiração. Naã posso esquecer do cãozinho vira-lata, que, sentindo o meu desespero, se aproximou e me lambeu, com um olhar consolador como se me dissesse: Vai ficar tudo bem!

Enquanto isso, Udhayan havia retornado para o quarto com o pessoal da pousada, e lá constataram que o delinquente removera as telhas e entrou pelo buraco que se fez no telhado. Não fomos as únicas vitimas, o quarto ao lado também foi invadido, mas lá, eles nao encontraram nada de valor. 
Nesta noite, Udhayan supostamente teria que ligar para irmã, mas quando esperávamos o nosso jantar ele constatou que havia esquecido o celular no quarto e cogitou a possibilidade de voltar pra buscar. Isso me lembrou a noite anterior, também quando esperávamos o jantar, eu voltei sozinha ao quarto para buscar o computador e uma nova explosão de arrepios percorreu meu corpo. Eu poderia simplesmente dar de cara com o ladrão ao voltar pro quarto.
A pousada consiste num conjunto de cabanas de madeira na beira da praia, com pouca luminosidade. A estrutura de recepção e  restaurante, fica no inicio da rua de forma descontinua. Nesta noite - ficamos sabendo depois - o vigia não tinha ido trabalhar pois tinha ido a um funeral.
Coincidência ou não, nesta noite também faltou energia, por volta das 19:00, enquanto olhávamos as mais de 600 fotos da nosa trip, exatamente quando chegamos na terceira ou quarta foto que tiramos em Trincomalle (onde ocorreu o incidente anterior). Uma sensação de medo imediatamente se instalou e decidimos parar de olhar as fotos, tomamos banho e fomos jantar; a partir daí, já e sabe o que aconteceu. 
Smart phones ainda não são tao populares por aqui, e alguém esqueceu de avisar aos ladroes sobre a tecnologia gps que estes aparelhos dispõem, e, negligenciando isto, eles mantiveram os celulares ligados, o que permitiu a dentificação da localização deles. Bingo!! Neste momento entendi que não foi por acaso que ele esqueceu o celular no quarto. A primeira localização identificava-o a cerca de 4 km da pousada. A policia desconhecia a tecnologia e tardou em ir atras dos delinquentes. Cerca de 20 minutos depois a localização indicava-o na quadra da frente. Pouco tempo depois o telefone foi desligado.  Nervoso com a possibilidade de perdermos de vez o sinal, insistimos pra que a policia tomasse logo uma atitude. Ao atualizarmos, percebemos que eles se moviam para mais perto da pousada, ate que finalmente eles foram pro local indicado. Udhayan com o lap top, dois funcionários da pousada e seis policiais, dividido em um carro e um tuck-tuck, enquanto eu fiquei na pousada, no "centro de operações", atualizando a localização com um celular disponível e outro funcionário do lado. O sinal do gps ficou indisponível por cerca de 40 minutos. Eles relataram que foram até la e a localização era exatamente no meio de uma rua, sem nenhuma casa ao redor (aí fica difícil). Eles ja estavam quase desisti do e voltando pra casa, quando, de repente, recuperei o sinal e e liguei para informar a nova localização, enviando em seguida um print screem da tela do google map para o email de um dos funcionários da pousada.
Segundo relato de Udhayan, , ao chegarem no local indicado, por volta das 23:00, um senhor atendeu a porta, a policia conversou alguma coisa com ele e os outros membros da família aos pouco começaram a se aproximar, até que, do outro lado da casa, um homem magricela, de cerca de 24 anos apareceu com ua postura defensiva informando que não havia nada de errado ali. Mostrando-se convictos de que os itens roubados se encontravam ali, a policia insistiu, enquanto ele continuava negando. Até que, não se sabe qual argumento foi usado, o mesmo rapaz da postura defensiva entrou em casa e trouxe um dos celulares, estampando na cara de todos os familiares uma expressão de surpresa e decepção. Os policiais questionaram sobre o segundo celular, e ele insistia em negar, até que desistiu e devolveu o segundo aparelho. Algemado, ele foi colocado na viatura e levado para a delegacia, nossos telefones confiscados, obrigando-nos a ir na delegacia no dia seguinte, para registrar queixa e recuperar os nossos bens.
Udhayan voltou arrasado para a pousada:
-É um cara novo, pescador, pai de dois filhos. Pode passar 2 a 6 anos na cadeia por causa desse pequeno roubo.
-Essa é uma discussão recorrente e sempre polêmica no Brasil, quando os autores desses "pequenos crimes" são colocados como "vitimas da sociedade". Não sei se meu coração endureceu, mas para mim, esta condição social não alivia a sua culpa. Este é um país pobre, imagine se todas as pessoas começassem a roubar, apoiados nesta justificativa?

Nós já estávamos alojados em outro quarto, e eu não preguei o olho durante toda noite, aliás, a confusão toda terminou por volta das 3 da manhã. Da experiencia anterior, ficou na memória o medo da escuridão e agora uma nova cena completava mais um capitulo dessa experiencia: As nossas coisas espalhadas pela cama e pelo chão do quarto, evidenciando que alguém estivera ali momentos atrás. Uma sensação de vulnerabilidade, teoria da conspiração, perseguição....

Estariam os dois eventos conectados? Mas eram dois crimes de características completamente diferentes. No primeiro evento nada nos foi roubado, e o criminoso mostrou uma postura de enfrentamento, entrando no quarto sabendo que havia um casal ali. No segundo caso, o ladrão esperou-nos sair para o jantar. estranhamente o lap top e a carteira com cerca de 20.000 rupias (~ R$ 400,00) não foi roubado. Estranho por que pequenas bolsas da minha mala foram revistadas e a carteira tão à vista não foi levada. A unica conexão entre os dois eventos foi a falta de energia, que antecedeu os dois crimes.















Um comentário:

Ira disse...

Uêba! Gostei de ver que voltaste a registrar as tuas aventuras. Menina! Como consegues atrair tanta coisa diferente e interessante? Sabes contar isso muito bem. Tentei postar no blog direto, não consegui, por isso tô fazendo aqui. Boa sorte! (Acho que já tens bastante, mas um pouco mais vai bem).