sexta-feira, junho 30, 2006

Uma fotografia viva

Eu vi uma moça que parecia uma fotografia antiga. Pela sua moda defasada, seus cabelos desarrumados e olhar estático. A rua transbordava de transeuntes e eu observava o dia começar apressado pelo vidro embaçado da condução que me transportava para o meu destino rotineiro. Na cadeira da frente uma senhora levantou-se para ceder o lugar a um idoso que estava em pé tentando, a custo, equilibrar-se. Ele estava há horas do meu lado e eu sequer notei, tão distraída que estava com a vida que acontecia lá fora. Era a imagem viva da fotografia antiga que me roubava a atenção. Lembrei-me de uma moldura que tenho de mim quando criança, vestida numa moda igualmente defasada, de cabelos não menos desarrumados e uma magreza aguda que os anos muito pouco conseguiram amenizar. O senhor idoso permaneceu sentado apenas até a parada seguinte, onde desembarcou. Mas aquele trecho curto do trajeto pareceu infinito. Como uma fotografia que eterniza imagens, histórias e sensações.

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