segunda-feira, junho 04, 2007

A menina que virou árvore.

Mal conseguiu esconder a palidez num sorriso quando sua mãe lhe dissera que iria cortar-lhe os cabelos.

-Sim, irei vendê-los. Consegui um bom dinheiro neles. Soube que é moda na Europa emendar fios de outrem nos cabelos franzinos, lentos no crescimento.

Soava-lhe estranha a idéia de ver seus cabelos pendurados em cabeças alheias. E se nesta tal de Europa resolvessem inventar modas como emendar pés, orelhas ou mãos? Esfriava-lhe a espinha só de pensar... Os seus cabelos eram delicados, de doçura igual ao seu caminhar. Negros e de brilho prateado com ondas alegres e sutis. Além dos cabelos, invejados pelas moças da pacata cidade, da sua cabeça brotavam sonhos, pensamentos e fantasias de menina bem-te-vi. Mas era chegada a hora. A sua mãe pegou a tesoura, guardada na segunda gaveta da cômoda de jacarandá, amarrou-os num trançado sinuoso e – onomatopéia de tesoura! – enfim estava com o futuro “bom dinheiro” nas mãos.. Na Europa, os seus cabelos emendados numa cabeça de sonhos e pensamentos desconhecidos foram de um sucesso não antes imaginado, e encomendas não tardaram chegar. Então, ficou decidido: da pequena mocinha de delicado caminhar brotariam os frutos para alimentar toda a família. Ela acabou por aceitar, acostumou-se até. Como se no seu próprio quarto tivesse criado raízes, por lá muito tempo ficou.. Alguns fios caíam, como folhas que se renovam. A sua vida tornou-se um outono intermitente, com um toque de primavera estampada no brilho e vitalidade dos frutos que cresciam a cada dia.

E foi assim que se sucedeu. A menina virou árvore. E exportava os seus frutos pro modismo europeu.

Inspirado em lala (Zaira Caroline), beijos prima!!

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