quarta-feira, março 22, 2006

Surdez...

Em função da perda auditiva da minha vovozinha, tenho sido ultimamente os seus ouvidos, além das suas muletas, é claro. Fico pensando nas diversas possibilidades que existem da gente se desconectar do mundo, e não ouvir me parece bastante intrigante. A gente fica impossibilitado de reagir aos ruídos das transformações que acontecem lá fora. Derrepente o mundo começa a desmoronar e a gente se quer se daria conta, não fosse a poeira das coisas desabadas. Algumas vezes desejei o sossego dos surdos, ou algum dipositivo qualquer que me tornasse alheia aos meus ruidos internos. Aqueles provocados pelas confusões, pelas transformações, pelos medos, pelos desejos....Ah, os desejos....tenho medo do que NIETSCHE tem me dito a respeito dos desejos....Mas vou me concentrar apenas nos meus desejos momentaneos de alienação auditiva. Pouco a pouco, ela (minha vó) está aprendendo a técnica da leitura labial, mas às vezes, por mais que ela tente fingir um entendimento, é nítido que a mensagem não foi compreendida, pois as respostas se resumem a um aceno de cabeça indicando um sim. Compreensivel, pois sim é uma resposta que se encaixa em quase todas as questões. As vezes, muitas vezes, a gente diz sim por estar sem saco de tentar entender bem o que está sendo questionado. Eu tenho dito muitos sins!! E não me perguntem porque, pois me parece bastante cansativo procurar entender. Semana passada, nostalgicamente, arrisquei uns sons de flauta, para sobrepor às ondas sonoras dos meus - peço licença para o neologimo- "insilenciosos pensamentos". Se essa surdez deliberadamente procurada der sinal de vida, vou imitar vovó, e sem pensar muito, com a cabeça direi "SIM"

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