quarta-feira, maio 17, 2006


Numa madrugada dessas assim tão fria? Mas mesmo assim ele caminhava. O vento gélido lhe adormecia a face e tornava fria a temperatura das suas mãos. Ele cruzava os quarteirões numa velocidade, que dava a impressão de ele estar passando pelos carros, e não estes por ele. Não pensava em nada, pelo menos isso é o que tentava fazer. Olhava a todo instante para a sua sombra, que se movimentava num rítimo defasado do seu, dando-lhe a impressão que enfim conseguira libertar-se de si mesmo. Que enfim libertara-se da matéria sufocante que sempre lhe aprisionou. Estava diante de si, fugindo de si, ao mesmo tempo em que tentava alcançar seus passos apressados. Era uma fuga inútil. Parecia impossível libertar-se da forma indisociável que o perseguiu durante toda uma vida. E para sombra, era uma dependencia insuportável, porém necesária. Quase tropeçou no velho fético que dormia na calçada encolhido sobre si mesmo para amenizar o frio daquela noite cinza e muda. Mas em segundos recuperou o equilíbrio e a sombra numa cadência, não menos defasada, em seguida o acompanhou. Não mais suportando a perseguição, cruzou a viela de luzes de postes quebradas e cobriu-se de trevas. Teve a sua sombra projetada no silêncio, buscando o entendimento e aceitação dos seus obscuros e indissociáveis"eus" .

2 comentários:

Fulano disse...

Bastante tempo sem vir aqui e os textos continuam muito bonitos... escreve algo bem ruim aí pra eu ver!

Anônimo disse...

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