segunda-feira, abril 23, 2007

Almoço de domingo

Eu pedi para não jogarem fora a cabeça do peixe. Queria comê-la para colocar em mim memórias sonoras do mar. Mas a sua expressão pálida, apesar do dourado da fritura me fez hesitar. Seus olhos inertes alguma coisa me queriam dizer e eu não soube escutar. Devorei-o! Devorei o seu cérebro frito! Não, não havia cérebro, o que devorei foi sua cabeça oca, pois tudo que eu menos queria era digerir algum fragmento racional de um ser. Eu não preciso pensar, mas o que sinto muitas vezes me trai! É como a isca que ao peixe desatento atrai... Hoje comi sua cabeça servida frita numa bandeja fria, provocando em mim a sensação marinha de flutuar. Eu vi o mar no seu olhar estático e frio. Eu vi no seu olhar vazio o silencio [saudade] do mar.

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