terça-feira, abril 03, 2007

Nestes dias de pouca inspiração, está valendo publicações retroativas de alguns textos. Não poderia deixar de registrar a minha carteira de motorista, que finalmente saiu (uhuhu). E também a cena interessante que vi hoje de um crente vendendo CD pirata na praça e cantando as músicas na maior empolgação.

Então...estava fuçando minha caixinha de coisas antigas, e encotrei o rascunho de uma carta, que achei bacana publicar aqui pq é carregada de sentimento...Na verdade, uma fotografia de um momento que experimentei.


...Lembro-me do dia da primeira transição. Estava no banho, e derrepente, meus olhos transbordaram. Sentia que a paixão estava morrendo para dar lugar a algo muito maior. Não sabia como chamá-lo, mas podia dizer que era rico em intensidade. Tentei compará-lo com alguma sensação outrora experimentada, aproximou-se um pouco do dia em que me apercebi do meu amor por meus pais. Meu Deus! Estaria eu amando?!. Mas o que me levaria a cultivar um sentimento tão sublime por alguém então pouco tempo? Sabia apenas que estava ali. Com o peito bombardeado de emoção. O corpo impregnado de sensações. E, além disso, uma paz irreconhecível. Não procurei saber a posição dos astros naquele momento, mas estava certa de que todos dançavam ao som da minha felicidade. Que bom! Por um instante senti-me feliz! Mas diante da grandeza de um sentimento que fermentava, senti também medo. Medo de perdê-lo. Medo de vê-lo escoar. A água banhava meu corpo e escorria pelo ralo, lavava um pouco de mim. Tive medo de vê-lo água! Mas meus lábios sorriam. Queria senti-lo em toda a sua grandeza mesmo que fosse só por aquele instante. Minhas lágrimas eram doces. Caiam para esvaziar um coração que borbulhava de um sentimento que me fazia sentir inteira. Não sei até hoje o nome daquele sentimento que impregnou-se em mim naquela quinta feira.

Lembro-me também de outras transições. Senti que algo acontecia dentro de mim, mas não acontecia comigo. Lembro-me da noite de lua cheia. Chorei! Chorei por sentir ir embora o encanto. No entanto, o meu encanto permanecia. Senti que o outro espelho não mais refletia. As energias que de mim emanavam, não mais retornavam. Perdia-se dentro de um coração aquém. Mas o que fazer? Todas as paixões são efêmeras, e lá estava eu: vítima da brevidade do encanto. Não do meu, mas do outro que não me pertencia. Tive vergonha da minha covardia. Mas o que se há de fazer para deixar exposto um coração? Toda olho fala, atalho pra alma. Pedaço exposto do coração...

Lembro-me que em meio a tantas transformações, inexplicavelmente tudo se perdeu. Senti falta da minha paz. Fui procurá-la no mar, e senti-me novamente o próprio mar: profundo solitário...levei pra longe meus pensamentos, esqueci um pouco o ruído do silêncio. Encontrei nas águas calmas de Netuno o que por instantes distanciou-me de mim. Chorei. Tive as águas do mar transbordando nos olhos, devolvendo enfim o vão da minha serenidade. Não procurei respostas. Esperei o mar engolir a bola de fogo para ter então meu espírito novo. Alguém falou que “entre a dor e o nada, escolheria a dor” e naquele momento, dor e nada eram a minha verdade paradoxal.

Estive relendo alguns versos. Drumonnd, Vinícius, o cochilo na página trinta e seis...Nenhum motivo é banal. Todo sentir é comunicável. Inexplicável apenas o silêncio! Mas que transição precisaria eu passar para aceitar palavras doces e olhares cúmplices serem trocados por um oi apressado no meio da multidão? Meus loucos sentimentos às vezes me levam a pensar que é na superfície que se deve ficar, mas estaria deixando de ser a ameixa que sou...

Respostas são quase sempre vãs. Mas ao ouvido incomoda o timbre do silêncio agudo. Quem poderá explicar? Mesmo sem querer a gente se apaixona. Mesmo sem porque o sonho desmorona. Mesmo sem sentir a gente se transforma.

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