sexta-feira, junho 19, 2015

07-03-15 - Viagem estratégica

Que dia vai ser o festival este ano? Nãaaaooo!!!! Começa dia 27 de agosto.
Pisaríamos em solo britânico dia 28 de fevereiro, isto queria dizer que em março, abril, maio...27 de agosto eu teria que voltar pro Brasil. Nãaaaaooooo!!!!

Cheguei em setembro com visto de turista, que me dá direito a seis meses. Como saímos do Reino Unido e passamos os dois meses no Sri Lanka, esta nova entrada me daria  direito a mais seis meses e só então eu voltaria para o Brasil para solicitar o visto e poderia aproveitar o tão sonhado Shambala Festival, sobre o qual ele me falava desde que nos conhecemos em 2012, mas eu teria ue ir embora logo antes do festival começar. Tragédia!!

Tentamos trocar a passagem, tentamos mudar apenas a conexão, qualquer coisa que, na nossa ingenua ignorância, me fizesse aterrizar no país 1 dia depois, me permitindo assim ficar até o fim do festival. Mas só depois, muito depois descobrimos que não é bem assim. Dentro de 12 meses, eu só poderia ficar 6 meses com visto de turista, independente do ano vigente.

-Leve Clara para fazer uma viagem.
-Não! Se eu entrar no país, não vou querer sair novamente. é sempre muito tenso na imigração.
-Mas você vai ter chegado há uma semana e sairá para uma nova viagem, vai ser tranquilo.
-Não, eu não quero correr o risco.

Sabe aquela sensação de que você vai ser pego, mesmo sem estar fazendo nada de errado? É essa sensação que tenho todas as vezes que chego no controle de imigração. Provar que tenho dinheiro, casa, emprego e tantos outros vínculos no Brasil, que eu não quero trabalhar clandestinamente, que eu tenho acomodação no país....tudo isso é muito chato.

Mas eu topei! Topei fazer uma viagem com a minha sobrinha, já que com o passar dos anos, a distancia e a tecnologia nos afastaram tanto. Uma viagem de um final de semana seria muito importante para recuperarmos a intimidade e nos divertirmos juntas.

O critério de escolha do destino foi pelo preço. Tentamos obviamente Paris e Amsterdã, mas o custo das passagens estava inviável. Escolhemos Frankfurt, Alemanha. O que tem pra fazer lá? Relaxe, ainda temos algumas semanas pra descobrir, compra logo a passagem.

Já tinha caído na pegadinha da Ryanair uma vez, quando comprei equivocadamente um voo pra França ao invés de um pra Grécia. Mas caí mais uma vez. Nosso voo sairia de Londres às 19:40, chegaria Às 22:40 (fuso de 1 hora a mais na Alemanha) e retornaria no sábado as 21:00. Foi pesquisando transporte do aeroporto para o centro de Frankfurt que descobri que o voo não ia para a cidade de Frankfurt, mas Hahn-Frankfurt, uma cidadezinha no meio do NADA, a 2h de ônibus (unica forma de transporte) do centro de Frankfurt. Bem, como a ideia era só sair e voltar ao país, o jeito era aproveitar o que tinha pra fazer por lá.

A ida pro aeroporto já foi uma Odisseia. Metro para estação Vitória e ônibus para o Aeroporto Stansted, o que durou pouco mais de 4 horas. Desespero no aeroporto e NENHUM funcionário para dar informação, por pouco não perdemos o voo! Chegamos em Hahn quase 23:00, e fomos apanhadas pelos funcionários do hotel, funcionários aliás, super prestativos e atenciosos. Jantamos no restaurante do próprio hotel, comida deliciosa e desabamos na cama, depois de uma partida de baralho, claro. Acordamos no limite do horário para o café da manhã e nos fartamos com as opções de queijos, presuntos, ovos, sucos, pães, geleias, chocolate quente, café, bolos, frutas, iogurte, cereais. Bem, ali ja fomos consoladas de que, se nada desse certo, pelo menos nosso paladar voltaria feliz.

O pessoal da recepção resolveu nos ajudar na busca do que fazer naquele fim de mundo. Víramos o anuncio de um parque com arvorismo, alpinismo e coisas afins. Fechado até o início do verão. Tentamos um haras, para Clarinha andar de cavalo, mas ele funcionava como clube, onde os donos dos cavalos deixavam seus animais e, eventualmente, iam treinar...bem, o jeito é voltar pro quarto, bater papo, jogar baralho e aproveitar a companhia uma da outra. Até que ele conseguiu!! A dona do haras iria permitir a nossa visita e uma voltinha nos cavalos. Fizemos o check-out e passamos a tarde lá. Mas o voo ainda estava distante e acabamos voltando para o hotel, nossa unica referencia na cidade, onde tivemos um jantar delicioso, batemos papo, tiramos foto e demos continuidade ao cassino.

Na volta pra casa, ainda no aeroporto de Hahn, o fiscal da imigração me deu a maior bronca ao cobrar a autorização de Clara - Menor de idade - para viajar comigo, a qual eu não tinha. PQP, Iris me garantiu que não precisava!!! Depois de ouvir o maior sermão, pegamos o voo, mas um embrulho na barriga já antecipava a minha tensão na imigração, ainda mais com esta de autorização inexistente.

O transito para o aeroporto

















Parte II - Chegando no controle de imigração em Londres.

Entreguei o meu passaporte a carteira de identidade de Clara.

-Ela é o que sua?
-Minha sobrinha
-Ela mora aqui?
-Sim
-E você, está fazendo o que aqui.
-Eu vim visitar a minha família. Cheguei em Set....
-O que? Setembro??????????
-Sim, cheguei em setembro, mas janeiro e fever....
-E você está fazendo o que aqui esse tempo todo.

Ele não me deixava falar, por isso esse tempo parecia um tempo todo. Queria explicar que tinha passado 3 meses, desde setembro, fiquei 2 meses fora e estava voltando para pegar o meu voo, que , de fato, estava programado para 12/03, mas o qual eu pretendia trocar para fiar para o festival, em agosto.

-Você está trabalhando?
-Não
-Você tem um emprego no Brasil?
-Não, eu tenh...
-Eu quero ver os seus extratos bancários
-Eu não os tenho
-Não os tem????????? Como não????
-Nunca me pediram, achei que não foss...
-Como não. Tem que ter. Eu quero-ve-los
-Eu posso acessar pela Internet.
-Agora, quero ve-los agora.

Minhas mãos tremiam ao segurar o celular com toda aquela pressão na minha cabeça. Eu digitava senha errada, selecionava a opção errada e ele me cobrava agilidade. Em suma, o meu extrato não variou quase nada de setembro a novembro, pois o dinheiro que usei durante este tempo estava disponível em especie ou no visa travel money.

-Você não está gastando dinheiro?
-Eu estava gastando que trouxe em espécie.
-Quanto você trouxe em espécie?
-X
-E foi suficiente pra ficar este tempo todo...hummmm
-Minha despesa é curta, não pago acomodação, cozinho em casa.
-E você não vai pra festa?
-Não - Interrompeu Clara  - A gente só vai pro parque.
-Sua irmã trabalha com que?
-Y
-Ela não é rica pra te sustentar...

Extrato de dezembro. Saldo positivo com a restituição do imposto de renda. Fudeu! Ao ver o carimbo do Sri Lanka, eles riscou as anotações de balanço bancário referentes aos meses de janeiro e fevereiro. Incrivelmente, eu estar viajando com uma criança, filha de terceiros, sem autorização legal dos pais, não teve a menor importância. Eu poderia estar praticando o crime de trafico de pessoas, e isto foi irrelevante comparado à possibilidade de trabalho ilegal.

Ele pediu pra ver meu ticket de volta pro Brasil, e depois de mais alguns muitos minutos de terror inquisitório, completou.

-Olhe, você vai entrar, mas eu não vou te dar seis meses de visto não. Você não tem seu voo de volta comprado pra daqui a uma semana? Então vou lhe dar o visto só até o dia 12.

Carimbou o meu passaporte com um"Should Leave at 12/03/15" e me mandou partir.

Mistura de raiva, desespero, revolta e frustração. Clarinha não entendia o meu choro. Ela estava com a carinha de assustada por perceber a expressão do a gente da imigração e o tom com o qual falava comigo. Expliquei q ela que, por causa de 3 dias, acabei perdendo 6 meses de permanência e que teria que ir embora pro Brasil, às pressas em uma semana.

Aí foi correr pra Edimburgo, empacotar as coisas, separar documentos para viajar, me despedir do marido e partir de volta pro Brasil.

P.S.: Se você recebeu o carimbo com código PHR 13771 no seu passaport, não se preocupe. Segundo informação da advogada que nos deu acessoria com a documentação para o visto, isto significa que você foi interrogado sob suspeita de trabalho ilegal, apresentou as evidencias necessárias em sua defesa e foi liberado para acessar o país. Isto não representou nenhum problema nao processo posterior de solicitação do visto.








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