domingo, maio 20, 2007

Fim de tarde no porto.

Ele andava igual aos outros três. Um deles era da cor da areia e dormia um sono tão gostoso que durou quase a tarde inteira. Invejei-o. Senti vontade de afagá-lo, inclusive. Os outros dois eram negros, mas de um pretume diferente, sendo um deles mais queimado do sol. Neles havia um sono indeciso, que oscilava entre a necessidade de recuperar-se do cansaço e a vontade de acompanhar o movimento ao redor. A borboleta atraída pelo verdume do livro assustou-se com o meu assustar-me e pousou na orelha do preto queimado de sol. Aquele outro - que andava igual aos outros três - vestia sunga verde e brincava intensamente a construir castelos na areia, castelos que tão logo eram erquidos, tão logo eram destruídos pela água do mar. Era uma felicidade reluzente que trazia estampada na face, e o nariz escorrendo sequer chegou a incomodar. Ele percorria toda a extensão dos limites mentalmente construídos por ele na praia, lambusando-se na areia e banhando-se no mar. Havia uma diferença básica entre eles: andar sobre quatro apoios era condição natural para os outros três, dada a sua classe canina. Mas ele deslocava-se assim por uma deficiência, cuja causa eu desconhecia e tampouco me interessava saber. Mas era tão feliz! Tão feliz sua relação com os elementos da praia! Sorrindo intermitente pelo simples fato de estar ali. Sozinho. Independente. Enxergando felicidade independente de limites ou condições. Quando as ondas vinham, ele inclinava-se para baixo para molhar a cabeça, como num mergulho, pouco importando-se em atolar a face na areia. Era tão livre o seu passeio na praia, que mal parecia a prisão da cadeira de rodas existir!

Este garoto se divertindo na praia, foi uma da cenas mais linda que já vi!!

Nenhum comentário: