sexta-feira, fevereiro 06, 2015

24-01-15 - Ponha seu veu e venha ver.




Sabe Mohamed, aquele o aniversario em Galle? Pois eh, fui na casa dele hoje no fim da tarde. Os donos da asa onde estamos hospedados – Deepika e Farrim – sao seguidores de uma vertente da religiao mulcumana, denominada “Sufis”. A Indiana Kika (Prianka) chegou ontem a noite e veio conhecer o sheik Adnan, lider religoso que esta viajando pelo Sri Lanka. O papo da noite anterior girava em torno disso. Fe, religiao, crescimento espiritual, meditacao, mente x coracao, evolucao. 

Ja li algumas coisas para entender melhor sobre os mulcumanos, mas as informacoes nao se fixam na minha cabeca, e uma otima forma de aprender, eh atraves de quem faz parte dela. Eu estava movida pela curiosidade. Sempre fui muito fechada a qualquer tipo de religiao diferente daquilo que fez parte da minha educacao quando crianca, mas a curiosidade me aticava e la estava eu na casa de Mohamed (Maome). Deepika disponibilizou uma roupa sua, caso precisasse, poise eu teria que estar adequadamente vestida (tipo, toda coberta, inclusive a cabeca). A calca sequer passou no meu pe, a blusa entrou com sacrificio, falsa magra que sou, mas no improviso, consegui me cobrir como manda o figurino. Estava usando na cabeca minha canga de praia que a vaca comeu na white house (Em Unawatuna), mas so me lembrei das centenas de furinhos quando ja estava debaixo do teto do seu Mohamed - tarde dmais. No carro, as criancas iam excitadas, acho que muito mais pelo fato de que iriam comer mac Donald depois do culto, do que pelo culto em si (Sim, eu comi Mac Donald. Depois de semaaanas comendo curys, achei aquilo tudo delicioso!). A instrucao de Aiman, 7 anos, era copiar tudo que as outras mulheres fazessem.

- Eh isso que faco, so presto atencao e faco igual – disse.

Antes de descer do carro, tive que cobrir a cabeca (com a canga que, ate entao, nao sabia que estava toda “Bagacada”). Do lado de fora do salao, um mar de sandalias, um homem no chao embalava uma crianca. Dentro do salao, os homens sentados no chao na primeira metade do recinto, todos com pequenos chapeus ou turbantes cobrindo-lhes a cabeca. As criancas esqueceram de avisar a Udhayan que ele precisava de um, e la estava ele, de cabeca pelada no meio dos outros. Na outra metade do salao, as mulheres tambem sentadas ao chao, tinham seus veus cobrindo-lhes as cabecas. Nao pude enxergar quem estava na frente do culto, vi apenas um turbantao verde, mas era o Sheik Adnan. Ele entoava canticos numa lingua, na maior parte das vezes, desconhecida, provavelmente arabe, e era seguido pelos demais. Assim que entrei no salao, meu coracao disparava de medo e ansiedade. Meu olhar curioso prcorria todo o salao. Lembrava muito do meu colega de trabaho, cujo assunto preferido eh “terrorismo” e pensava: Vao jogar uma bomba aqui. Eh impressionante como, sem perceber, a gente acaba comprando certos estigmas. 

Alguns canticos  - ou mantras, nao sei – soavam engracados e me dava vontade de rir. Coisas do tipo “Ho-Ho-Ho-Ho-Ho-Ho….Ho-ho!!!” (Nao eh o Ho-Ho-HO de Papai Noel, favor nao confundir). Algumas pessoas ao redor se mostravam em estado de oracao ou meditacao, com seus olhos fechados e corpos balancando lentamente. Outros mostravam-se inquietos, mudando de posicao, com olhos nao menos inquietos que os meus, percorrendo todo salao. Os canticos continuavam, com uma acustica excelente no local. Horas eram interrompidos por uma especie de oracao puxada plo sheik, reconhecia os nomes Alah e Mohamed repedidos diversas vezes. Aos poucos, o medo e as batidas fortes do coracao foram se esvaindo e fui me sentindo numa sala de cinema, mera espectadora, sem fazer parte de nada que estava acontecendo ali. Saimos do culto antes de terminar. Foi suficiente para satisfazer a curiosidade. Senti muito mal estar e dor de cabeca ao chegar em casa. Pode ter sido a noite mal dormida, o hamburguer gorduroso, ou simplesmente a energia do lugar.

Um comentário:

Tania Marques disse...

Como você escreve bem! Enquanto lia lembrava-me de meu filho Francisco que já seguiu essa vertente (na verdade creio q segue até hoje). Acho q seria interessante ele ver esse texto...Um beijo