sexta-feira, fevereiro 06, 2015

28-01-15 - E aí, vamo casar? Só se for agora!!!

PARTE I - OS PREPARATIVOS

E se a gente casasse no Sri Lanka? Hum....pode ser! Vamos ver como é o processo burocrático e a gente decide. Viemos pra cá com essa possibilidade, mas sem planos.
Há duas semanas, num almoço na casa da tia Sumytra, sua amiga Cumundu perguntou se éramos casados e sugeriu que casássemos aqui. "Eu tenho uma amiga que trabalha no consulado e faz vários casamentos de estrangeiros". Udhayan sabia de cor os documentos que precisávamos para casarmos na Escócia, eu sabia os que precisávamos no Brasil, como, por exemplo, uma absurda certidão de nascimento emitida no máximo há 6 meses. Caramba, quem, além dos recém nascidos tem certidão de nascimento emitida há seis meses?  A ideia do casamento reaparecia, mas o que menos queríamos naquelas férias tão esperadas era nos preocupar com coisas chatas e burocráticas. Seguimos viagem. Praia, elefantes, casa da montanha, estrada, cachoeira...e sempre adiávamos qualquer atividade que fosse relativa a organizar um casamento.

Precisaríamos voltar a Colombo para solicitar a extensão do visto por mais um mês. Chegamos na sexta de manhã e fomos direto ao setor de imigração, onde resolvemos tudo em cerca de 2 horas. Voltamos para um novo almoço na casa da tia Sumytra e perguntamos, despretensiosamente, pela tal amiga da imigração.

- Tarde demais, ela só trabalha até as 14:00

Teríamos que esperar até segunda feira, e assim o fizemos. Na segunda, chegamos ao escritório da tal juíza às 13:00. Ela já nos recebeu com um monte de formulários na mão. Mas como assim? A gente só veio buscar informações.

Além de amor, convicção e vontade, era preciso estar no país há mais de quatro dias, o passaporte, o formulário preenchido e algumas mil rupias .

-Pra quando podemos marcar o casamento? -Perguntou Udhayan
-Amanhã.
-Ok, marcado!

A ideia era escapar de Colombo o mais rápido possível, mas mesmo assim"amanhã" parecia cedo demais. Eu nem teria tempo hábil para avisar à família ou providenciar qualquer outra coisa, mas que coisa? Sei lá, qualquer coisa....era o meu casamento, pô.

-Que tal na quarta-feira? - Sugeri
-Ok, depois de amanhã, tá marcado. - Disse a juíza.
-Mas a que horas: - Perguntei
-13:30, pode ser?
-Ok, combinado!

Neste momento havíamos esquecido que estávamos em Colombo e não em Edimburgo, onde o sol se apresenta de forma beeem diferente às 13:30

Ai meu Deus! É isso mesmo?? A gente preenche o formulário, entrega duas cópias do passaporte, paga a taxa e em dois dias estaremos casados?

Voltamos para  a casa da tia Sumytra, onde uma nova amiga nos esperava (é uma pena não lembrar o nome dela) com duas blusas para eu experimentar, era a blusa que iria compor o sari.
Você prefere cadian ou indian sari? Não sei! Branco ou com cores? Não sei! Prata ou dourado? Não sei! Ai meu Deus!!! Eu nunca me imaginei na minha própria cerimônia de casamento, ainda mais vestindo um sari! (O que me fazia muito lembrar o meu primo Vinicius!!).

-Mas e o sapato? O que vou calçar?
-Como assim sapato?
-Sapato, sapato...
-Você vai casar descalça, aliás, vocês.
-Descalça? Uhuhuuuuuuu!!! Que delicia!!!

Eu nunca me imaginei na minha própria cerimônia de casamento, mas andar descalça é um dos grandes prazeres da minha vida. Culpa do meu pai, que na minha infância, ao me ver saindo de casa para brincar na rua, me dizia: "Vai brincar? Tire a sandália"

A tia Sumytra nos ofereceria, além da casa para celebração do casamento, o almoço de confraternização.

Eu quero um elefante! - Gritou Udhayan.

Ela conhecia alguém num templo budista, não longe dali, mas a resposta sobre a disponibilidade do bichinho só sairia no dia seguinte, véspera do casamento.  Ela era diretora de cinema, ganhou alguns prêmios internacionais e tinha uma "gang" para ajudar na organização de um casamento de ultima hora.

Eu precisava de alguém para assinar como minhas testemunhas. Ligamos para Pasidu e Mahika, casal do Sri Lanka que mora em Edimburgo e trabalha com o Udhayan, os quais tentáramos encontrar no fim de semana , sem sucesso.

-Alô, Pas...
-Olá, como vão? Poxa, não conseguimos nos encontrar no fim de semana...
-Pois é, estamos te ligando por isso, quem sabe podemos nos ver na quarta, na nossa festa de casamento. Aliás, queremos vocês como nossos padrinhos.
-OI, vocês vão casar??? E avisam assim em cima da hora????
-É sim, desculpa, é que nós dois também acabamos de saber.

Nesta mesma tarde saímos para procurar a roupa do noivo, já que o meu estava sendo providenciado pela "gang'. Traje típico nacional, completo. Nada na primeira loja, nada na segunda, nada na terceira. E nada de stress também. Paramos para um sorvete. E temos tempo para um sorvete???? No final, tudo da certo...
Vimos uma loja de tecido, que há tempos queria encontrar. Entramos na tal loja à procura de tecidos coloridos para mim, (e nada de roupa de noivo). Numa segunda loja de tecidos, cogitamos mandar fazer a roupa do noivo, para ficar pronta na noite seguinte, mas era um risco muito grande. Até que, finalmente, na loja seguinte conseguimos encontrar o traje completo. Um srwong branco, como uma espécie de bata branca na altura do joelho e uma echarpe...Lindo! (SóQueNão!!!!)

-Vamos convidar fulano? Cicrano? Beltrano? - Ele se referia aos colegas do primo com os quais conviveu na época em que passou dois anos no país.
-Eu não me sentiria a vontade de ter como convidados um monte de pessoas que acabei de conhecer, enquanto eu não posso ter nenhum amigo ou familiar aqui. Vamos manter só a família do seu pai que vive aqui, eu me sentiria mais confortável. - Pontuei.

No dia anterior ao casamento, passamos a manhã inteira resolvendo coisa pro primo Punny. Chegamos pro almoço na casa da tia Sumytra, por volta das 14:00, onde a sua amiga já nos esperava para nos acompanhar na compra das alianças. Como não havia tempo hábil para escolher o modelo e encomendar no nosso tamanho, o jeito foi provar todas as alianças do mostruário e escolher a que entrasse nos dedos.

- Ouro branco ou ouro normal?
-Pode ser de prata também.
-Não vendemos prata.
-Nenhuma cabe no meu dedo!!!
-Ahh...essa de ouro branco coube em mim.
-Em mim coube essa de ouro normal.
-Pronto!! Resolvido!!
-Mas elas não tem que ser iguais? - Perguntei.
-Não, não necessariamente. - Interveio a tia.
-Aguarde um minuto - Disse o vendedor.

E de repente desceu com duas alianças de ouro iguais, que milagrosamente coube nos nossos dedos. Ok, mais um problema resolvido.

O elefante estará disponível amanhã. UHUUUUUUUUUUU! Só precisamos levar algumas frutas para ele e uns srwongs para os cuidadores. A blusa do sari que havia ido para ajuste voltou....era uma coisa tao apertada que mal conseguia levantar os braços, ao tentar movimentá-los, indiquei que estava muito apertada e ela comentou:

-Você não vai precisar voar! Está otimo! É assim mesmo que tem que ficar!

Fui cortar o cabelo e Udhayan retornou de cabelo cortado, barba feita e bigode aparado. Meu Deus, vou casar om Hitler!!!

-Se soubesse que casar era assim tão fácil, já teria casado há mais tempo. O bom de casamento relampago é que não dá tempo de se estressar.
-Ah sim...claro...fácil por que tia Sumytra e sua gang está resolvendo tudo pra nós...

Agora era só ir dormir, para estar de pé no dia seguinte Às 5:30

Escolhendo as alianças



PARTE II - A CERIMÔNIA

A noite, é claro, foi mal dormida!
Eu tinha a sensação de ter sido convidada pro meu próprio casamento. E lá estava eu, de pé as 5:30, descabelada e cheia de olheiras. Para mim era tudo uma incógnita. Não sabia o que ia acontecer dali pra frente, ela podia me fantasiar de palhaça e estaria tudo bem. Eu só sabia que era uma cerimônia típica do país, sem vinculo com nenhuma religião.. Meus pais e irmãs estariam em casa conectados em pensamento, e talvez pelo Skype. O fuso para o Brasil era de 8,5h.

Às 9:00 estava pronta, de lá fomos para o templo tirar foto com o elefante....essa história do elefante rende um capitulo à parte, muito triste ver a maneira como ele vive e é tratado dentro do templo, ele estava numa garagem, e veio trazido pelo cuidador com toques de mals tratos...um inocente cajado com um prego na ponta, além das correntes pesadas penduradas no seu pescoço....Mas esquece isso! Hoje é dia de alegria!

A cerimônia, a tal cerimônia típica do país e sem vinculo religioso, é bem simples e cheia de significados. Significados esses que só descobri no final da cerimonia, quando Pas me explicou na hora do comes e bebes. E eu observava tudo, enquanto acontecia, cada nova cena era uma surpresa.

Não existe marcha nupcial. A minha entrada é anunciada por tambores, tocados por dois rapazes, vestidos de roupas típicas que caminham na minha frente.  Pas, além de padrinho, fez papel do meu pai, me conduzindo ao altar onde Udhayan já me esperava acompanhado do seu tio. Ambos subimos com o pé direito e pisamos em um mosaico feito de arroz de diferentes cores. Um cantico é entoado por 4 mulheres, vozes aguuudas, chatinhas....heheheh...
Trocamos alianças, sem fazer promessas pré definidas. O mestre de cerimônias segurou as nossas mãos direita e atou nossos dedos midinhos com um cordão e os ungiu com água. Para simbolizar uma união pura e transparente. Os convidados vem e nos entregam folhas frescas, para simbolizar que a nossa união seja harmoniosa e de respeito pela natureza. Dois membros da família  nos dão arroz e leite para beber. O primeiro simboliza fartura e prosperidade o outro fertilidade. OS tambores tocam novamente e deixamos o altar.  Na saída, um coco seco tem que ser quebrado por um dos convidados. Aí é que vem a parte tensa da história, que, ainda bem só fui descobrir depois. A maneira como o coco se divide em bandas vai definir como será a relação dos recém casados. Bandas repartidas com 50/50 simbolizam uma união perfeita e equilibrada. 70/30 é tipo, "OK", mas nada perfeito. Uma divisão 90/10, vocês tão lascados....que tenso isso né? OS convidados todos esperando, como se aquele coco fosse o suprassumo da verdade e a tensão pra saber se o casamento vai dar certo ou não. Quando Pas me explicou essa parte da cerimônia, saí correndo pra ver o coco em bandas, nem tinha reparado nesse detalhe, ele poderia ter sido dividido só retirando o cucuruti que eu ia achar lindo (e estranhar as caras assustadas dos convidados que sabiam o que aquilo significava naquela tradição).

-Paaaaaassss....não está 50/50, esse pedacinho aqui está maior
-KKKKK...está sim, divisão pela metade.
-Nãooo, olhe aqui, esse pedaço está maior, com certeza.
-Não, menina. A casca externa dá essa impressão. Mas se você olhar o conteúdo do coco, ele está metá-metá...acredite. É um resultado excelente
-Rummmm...

O procedimento burocrático aconteceu depois da cerimônia. Engraçado foi repetir, em inglês, o juramento. Não entendia o que a mulher falava e repetia tudo embolado...
Assinamos os papéis (que por estarem redigidos em "sirilankes, não dá pra entender PN) e fomos declarados marido e mulher.




 O coco quebrado. A sorte do casal. Ta metá-metá, acredite.









A gangue! Faltou tia Sumytra na foto.

Tia Sumytra, fofa!!

2 comentários:

ESPAÇO CULTURAL E EVENTOS disse...

Que lindo Ci! Você ficou linda. Imagine se tivesse tido uma produção antecipada! Muito legal toda simbologia da cerimônia. Muito amor e admiração mútua para vocês! Casar é tudo de bom!
Grande beijo,
Marilu

MIrtes disse...

Nem que quisessem muito, fazer você ficar feia ninguem nunca coseguiria... Vc é sempre linda por fora e ainda mais linda por dentro. Muita saudade de vc Gatona!!!